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"Um verdadeiro advogado deve aceitar defender os piores criminosos, mas respeitando sempre a seguinte condição: nunca ceder em sua estratégia de defesa." Essa é uma declaração do controverso advogado francês Jacques Vergès. Mais: é o princípio que norteia o seu meio século de carreira. Conhecido como "o advogado do diabo", ele representou terroristas como o venezuelano Carlos, o terrível Chacal, e genocidas do calibre do ditador sérvio Slobodan Milosevic e do nazista Klaus Barbie – apelidado de "o açogueiro de Lyon" e condenado por 341 crimes. Seu mais recente, famoso e cruel cliente é Khieu Samphan, o segundo homem do sangüinário Khmer Vermelho, que impôs a barbárie no Camboja. Dando seqüência ao seu lema, Vergès ameniza e dá a entender que defende pessoas e não as suas ideologias, crenças, seus crimes ou métodos de governar: "Se Barbie me pedisse para sustentar em juízo a tese da superioridade da raça ariana, eu certamente teria recusado o caso." A vida, a profissão e a personalidade de Vergès estão retratadas no excelente documentário O advogado do terror, em cartaz em todo o Brasil a partir da sextafeira 11. No filme, alguém lhe indaga se teria defendido Adolf Hitler, caso tal oportunidade tivesse acontecido. Eis a sua resposta: "Eu defenderia até o presidente americano George W. Bush, desde que ele se assumisse culpado."

O advogado do terror é dirigido por Barbet Schroeder e ganhou o maior prêmio da indústria cinematográfica francesa, o César. Traça um fascinante retrato de Vergès, mostrando um dos pontos centrais de sua personalidade: ele costumava se apaixonar pelas terroristas que contratavam os seus serviços. Uma de suas grandes paixões foi a militante argelina Djamila Bourihed, heroína da guerra de independência de seu país e condenada à morte em 1957 por colocar bombas em cafés de Argel. Numa defesa histórica, Vergès conseguiu não apenas reverter essa condenação como também casou-se com ela – tornando-se mulçumano e cidadão argelino. Outra terrorista que explodiu de paixão o seu coração foi a alemã Magdalena Kopp, mulher de Chacal. Presa na França quando dirigia um carro repleto de explosivos em 1982, ela foi condenada a apenas cinco anos de prisão graças à eficiência de Vergès. O advogado nega esse romance, assim como as suas ligações com Carlos, supostamente vinculado à causa palestina. O filme exibe, porém, documentos da polícia secreta da Alemanha Oriental, a Stasi, provando que Vergès teria se encontrado diversas vezes com Carlos – um desses encontros foi em Berlim.

Sobre Vergès pairam outras suspeitas, mas essas o filme não consegue esclarecer, como a hipótese de que ele poderia ter sido espião russo. Na juventude, o advogado alinhou- se à luta anticolonialista e filiou- se ao partido comunista. Depois de seu envolvimento com os terroristas argelinos e palestinos, chegou a criar uma associação internacional de advogados para presos políticos. Uma das partes mais interessantes trata dos oito anos (1970-1978) em que permaneceu misteriosamente desaparecido. É com um sorriso, entre baforadas de charuto, que Vergès diz: "Vivi incógnito em um pequeno hotel de Paris, com nome falso." De onde vinha o dinheiro para ele se manter? Do ex-presidente do Congo Moise Tshombe, acusado de assassinar Patrice Lumumba, o primeiro chefe de governo daquele país. Apesar de esmiuçar a trajetória do "advogado do diabo", uma informação a seu respeito, no entanto, o documentário não consegue fornecer: quanto o doutor Jacques Vergès, 83 anos, acumulou de dinheiro ao longo de sua vida.

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