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O mês de julho é o auge do enoturismo no Rio Grande do Sul. É a época em que, incentivados pelo inverno, os turistas sobem a serra gaúcha para visitar as vinícolas, degustar a bebida e curtir o frio nos hotéis e restaurantes. Este ano, entre janeiro e março, durante a safra, o número de freqüentadores do Vale dos Vinhedos, principal região produtora, cresceu 80% em relação ao mesmo período do ano passado. Por isso, havia uma expectativa de que este mês o Vale recebesse mais do que os 50 mil turistas de 2007 – e a serra superasse os 120 mil visitantes. Não mais. A lei de tolerância zero ao álcool para os motoristas pôs um freio no consumo e na comercialização de vinho na região. “Houve uma redução de 25% a 30% na venda de bebida no restaurante e de 5% a 10% no varejo da vinícola no último fim de semana de junho”, diz Ronaldo Witczak, da vinícola Casa Cordelier.

Vinícolas maiores que recebem grupos, como Miolo e Aurora, ainda não sentiram diferença, embora o consumo de bebida tenha caído 30% no mesmo período, no Rio Grande do Sul. Nos hotéis e restaurantes dos municípios da serra gaúcha a queda foi de até 70% nos primeiros dias de tolerância zero. “Esta lei é xiita, fundamentalista”, reclama Carlos Paviani, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho. Segundo a nova legislação, quem tiver 0,2 grama de álcool por litro no sangue – que corresponde a 0,1mg de álcool por litro de ar expelido –, o equivalente a uma taça de vinho para uma mulher de 60 quilos, perderá a carteira por um ano e pagará multa de R$ 955. E a fiscalização nas ruas e estradas gaúchas é das mais severas. Na Operação Lei Seca, realizada no último fim de semana de junho, 94,4 mil pessoas foram fiscalizadas, 68 motoristas autuados pela brigada militar do Rio Grande do Sul e 54 terminaram na cadeia. A maioria (30,8%) tem entre 35 e 45 anos.

O enoturismo é um dos principais negócios da serra gaúcha. “A região da uva e do vinho é um dos mais importantes destinos daqui”, diz Heitor Gularte, secretário do Turismo do Rio Grande do Sul. Quem visita a região, costuma percorrer de carro as estradas que levam às vinícolas, localizadas na área rural. Só no Vale dos Vinhedos, onde estão 31 produtores, a venda no varejo representa 20% do faturamento. Como as pessoas estão bebendo menos, o setor entrou numa espiral infeliz: com a redução do consumo nos bares e restaurantes, os estabelecimentos não repõem os estoques e os pequenos produtores deixam de vender o produto. O prefeito Alcindo Gabrielli, de Bento Gonçalves, a capital brasileira da uva e do vinho, está preocupado: “É um importante gerador de emprego e renda para o município”, afirma ele. “Estão criminalizando algo que também é um produto cultural. Devíamos seguir o exemplo da Europa e dos EUA, onde a tolerância é maior.”

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