i47405uuu.jpgDo paraíso da fama precoce como cantor do grupo Polegar ele mergulhou no inferno das drogas. Junto com a dependência química começaram os pequenos furtos, justamente para trocar, o dinheiro ou os objetos roubados, por crack. A partir daí, em meio a inúmeras internações, parecia ter chegado a calmaria. Ele sumira dos noticiários. Agora voltou, e veio então com o crime pesado de tentativa de seqüestro, formação de quadrilha e usurpação de função pública. Foi assim que na terçafeira 1º Rafael Ilha, 35 anos, acabou preso em São Paulo quando tentava levar à força para a sua clínica de reabilitação de dependentes a estudante de direito Karina Souza da Costa, 28 anos. Rafael, a enfermeira Neusa Camargo Antunes e Cristiano da Silva e Andrade estão na cadeia. Eis a história do moço que desceu ao inferno. Na verdade, a sua clínica para adictos, aberta em 2006 e que se chama Comunidade Terapêutica Ressurreição, já nem devia estar mais funcionando porque foi interditada pela Vigilância Sanitária. São duas unidades, uma em Embu Guaçu e outra em Juquitiba, ambas na Grande São Paulo. A clínica ganhou fama porque tinha como um de seus "atrativos" a possibilidade de resgatar dependentes químicos das ruas e chegou a ter mais de 100 pacientes que pagavam em média R$ 1 mil por mês. Rafael alardeava que 50% deles saíam da clínica "curados". Se isso é verdade, não se sabe. O certo é que, como "médico" de si mesmo, ele fracassou.

Uma psicóloga que trabalhava para Rafael e que pede anonimato contou que a Comunidade passava por um bom momento: "Ele tinha planos de abrir uma terceira unidade." Na verdade, quase tudo que cerca essa clínica é um mundo de loucura. Rafael se julgava um ser divino capaz de salvar pessoas e, para tanto, as internava também à força. No caso de Karina, com ele foram encontradas seringas, medicações como dormonid e fenergan (fazem dormir) e faixas de imobilização. "Ele abriu a casa de recuperação e, por meio de uma denúncia, descobrimos que não havia alvará de funcionamento", diz Sonia Levy, diretora da Vigilância Sanitária de Embu Guaçu. "No final de maio fizemos uma vistoria e havia pessoas que estavam lá contra a vontade, o que é proibido." Foi então que a Vigilância Sanitária entrevistou cada um dos internos (cerca de 50 pessoas) e constatou que um deles estava tão dopado que mal conseguia falar.

O ex-polegar chega à montagem dessa clínica com o apoio de artistas famosos como Faustão, Zezé Di Camargo, Luciana Gimenez e a apresentadora Sônia Abrão – todas essas pessoas, com a melhor das intenções e tentando colaborar na recuperação de adictos, o ajudaram porque acreditaram que seu verdadeiro propósito era o de permanecer longe das drogas e, também, ajudar crianças a sair da famigerada cracolândia (região degradada do centro de São Paulo onde o crack é vendido e consumido à luz do dia). Rafael sinalizava para isso, uma vez que estava saindo de sua 28ª internação e tudo indicava que permaneceria, pelo menos dessa vez, de "cara limpa". Nada deu certo com a clínica, como, a rigor, nada dera certo antes em sua vida, mesmo durante o auge do grupo musical que chegou a vender cinco milhões de discos. De classe média baixa e filho de pais separados, Rafael foi criado em São Paulo pela mãe e pela avó, começou a trabalhar aos nove anos em comerciais de tevê e, em 1989, então com 12 anos, ingressou no grupo Polegar. Como a maioria dos dependentes químicos, ele era, e é, um poço emocional sem fundo: aos 15 anos já inalava e injetava cocaína e aos 16 veio a primeira internação. Desabando para o submundo, o cantor também experimentou cocaína na forma de crack e, do crack, pulou para o tráfico. Abandonou a carreira, virou morador de rua. Em 2000 passou mal após engolir uma caneta, três isqueiros e uma pilha durante uma crise de abstinência e, no mesmo ano, foi condenado por roubo a três anos de prisão. Prometeu se tratar e sossegar, e não fez uma coisa nem outra. Será que agora o ex-polegar se orientará?

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