Famoso pela verve paródica e sarcástica, Terry Gilliam volta à carga em Os irmãos Grimm (The Grimm brothers, Estados Unidos, 2005), em cartaz nacional na sexta-feira 7. Só que agora o alvo são as fábulas infantis: a bruxa má e seu “espelho, espelho meu”, a mocinha que desperta ao ser beijada pelo nobre cavalheiro e as crianças que se perdem na floresta na tentativa de encontrar o castelo feito de doces. Gilliam, óbvio, optou por chacotear os clichês dessas histórias. A começar pelos protagonistas. Numa Alemanha tomada por Napoleão, os irmãos Will (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger) vivem de aplicar golpes nos moradores de um vilarejo que morrem de medo de bruxas. Por meio de truques, eles simulam fenômenos sobrenaturais e depois posam de heróis ao fingir que derrotaram o inimigo oculto.

Tudo muda até que o rei descobre as traquinagens da dupla. Em troca de livrá-los da pena de morte, ordena que sejam mandados a uma floresta onde crianças foram raptadas e descubram quem é o autor dos crimes. Na tal floresta, as bruxas existem de verdade. E dá-lhe brincadeiras com os contos de fadas. Lá o sapo não vira príncipe ao ser beijado. O que há é uma rã viscosa que precisa levar uma lambida para indicar os caminhos corretos na mata assombrada. Apesar da citação direta, Gilliam deixa no ar a dúvida se os irmãos Grimm do filme são ou não os autores das fábulas. O sensível Jacob é fã dos contos de fadas e o durão Will passa a acreditar nas histórias infantis após enfrentar bruxas e seres mágicos. Quem conta um conto aumenta um ponto.