Dilma Rousseff, tida como a preferida de Lula para as eleições de 2010, já possuía uma plataforma eleitoral: o PAC. Tarso Genro, concorrente direto da ministra, ganhou a sua na semana passada. À frente do Ministério da Justiça, a quem se subordina a Polícia Federal, ele poderá vender a idéia de que "nunca antes na história deste país" tantos ricos foram presos. Na semana passada, dois deles caíram na sua rede: Daniel Dantas e Naji Nahas. Para a próxima, espera-se a chegada de mais um: o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. Excluindo-se o fato de que os figurões do PT continuam livres das garras da PF e os eventuais abusos, o fato incontestável é que, no atual estágio civilizatório do País, o povão se delicia ao ver ricaços algemados – ainda que seja de forma provisória e antes de qualquer condenação judicial.

Mas esse é outro problema. Na política, o embate que se anuncia entre Tarso e Dilma promete fortes emoções. Para quem não se lembra, o ministro da Justiça deu várias entrevistas dizendo que a candidatura da sua colega da Casa Civil ainda teria de passar pelo crivo do PT – ou seja, a preferência de Lula não basta. Além disso, numa operação policial recente, a João-debarro, Dilma irritou-se com as declarações de alguns policiais a respeito de fraudes nas obras do PAC. "Isso é coisa do Tarso", teria dito. Pode ser. Afinal, tanto Tarso quanto Dilma têm apreço pela política de dossiês. A ministra fez o famoso "banco de dados" sobre a ex-primeiradama Ruth Cardoso e seu concorrente assumiu que este é um instrumento legítimo na guerra política. No organograma do governo Lula, Tarso tem a PF. Dilma é mais ligada à Agência Brasileira de Inteligência.

Pode até ser que, amanhã ou depois, os dois se abracem em algum ato público. Mas deve-se desconfiar de qualquer gentileza mútua. O PT é um partido fratricida e a disputa entre dois nomes que já foram pré-candidatos, José Dirceu e Antônio Palocci, fez com que ambos saíssem enlameados do governo. Nessa última operação policial, especula-se até que haveria grampos capazes de implodir a compra da Brasil Telecom pela Oi – uma operação defendida por Dilma Rousseff e rejeitada por boa parte do PT (leia-se Tarso e fundos de pensão).

O momento favorece o ministro gaúcho, mas sua onda não irá durar eternamente. Já há um certo cansaço institucional com as prisões temporárias e as declarações do ministro Gilmar Mendes, do STF, são eloqüentes. Cedo ou tarde, quando a sensação de insegurança coletiva for maior do que o gozo com a pretensa caça à impunidade, o Estado policial implodirá. Até lá, que venham os dossiês dos candidatos: Dilma, dona do cofre, e Tarso, chefe da cadeia.