Pode parecer precoce, mas hoje
aulas básicas de informática
começam no chamado Jardim 1, freqüentado por crianças de quatro
a cinco anos. Coisas da era da
internet. Na escola os computadores podem até ter fins pedagógicos, mas em casa e nos milhares de lan houses do País são uma extensão da vida social das crianças e adolescentes, para não dizer, em alguns casos, o único caminho para arrumar amigos, diante de uma implacável timidez. Entre games, blogs e orkuts, o favorito da molecada são os serviços de mensagem instantânea, o messenger, também conhecido pela sua abreviação, MSN. É através do MSN que adolescentes retraídos se transformam em figuras populares, resguardados por nicknames (apelidos) curiosos, e ostentam uma lista invejável de amigos.

São muitos os programas que possibilitam a comunicação em tempo real via internet. O funcionamento de todos é parecido e muito simples, principalmente
para aqueles que já nasceram no berço da informática e manuseiam o mouse
tão bem quanto um controle de tevê. Basta baixar e instalar o programa no computador, cadastrar-se no serviço, tornar-se usuário e adicionar o maior
número de amigos à sua lista – a busca de amigos pode ser feita por nome
ou e-mail. Assim, sempre que alguém aparecer “online”, ele estará pronto para receber uma mensagem e vice-versa.

Entre todos os serviços disponíveis, o MSN, preferido dos brasileiros, é um
programa de diálogo virtual da Microsoft que está em funcionamento desde
1999. Uma comunidade do Orkut, com o título de viciados em MSN, tem 1.985 membros. E, segundo uma pesquisa promovida pela Microsoft, são 13 milhões
de usuários brasileiros do messenger contra 170 milhões em todo o mundo. O
mais surpreendente é que 8% dos usuários de internet têm apenas entre dois e
11 anos e quase metade desta precoce parcela, ou seja, 48%, já está ligada ao
bate-papo eletrônico.

É a geração que começa a dominar o sistema de mensagens e impor seus códigos. Para agilizar as conversas, os jovens abreviam sistematicamente as palavras e tornam as conversas online incompreensíveis. A tradicional despedida, um beijo, virou “hum bju”. Quando querem convidar alguém para a conversa, perguntam: “Vc qr tc cmg?”, que em bom português quer dizer: “Você quer teclar comigo?” O “genocídio” gramatical não é o maior problema. A questão é que a telinha do computador e a fluência da conversa – com até dez amigos ao mesmo tempo – hipnotizam as crianças, que não abandonam por nada o bate-papo e chegam a ficar até quatro horas diárias ligadas. Com isso, não têm tempo de fazer amigos reais.

Online – Carolina Bruno Valente, aluna da quarta série, é uma criança retraída
na sala de aula. Só lá. “Se na escola ela é tímida, se solta completamente no computador. Acho que ajuda bastante na comunicação”, diz Andreia Bruno
Valente, mãe da garota. Com o nick no mínimo estranho, “eba eu vou fazer violão”, Carolina contou que tem 92 amigos na sua lista do MSN e foi pelo messenger que deu a entrevista. “Não conheço todos os meus amigos online, mas chego a ficar quatro horas conversando. É o que eu mais gosto de fazer. Quando fico muito tempo, paro para jantar ou tomar banho, depois volto”, diz. Outros garotos, como os irmãos André, 12 anos, e Ana Carolina, dez, também se renderam aos encantos das mensagens instantâneas. “Uso o MSN há um ano e meio e tenho 70 amigos na minha lista. Não conheço todos pessoalmente. Sou tímido e acho mais fácil falar no messenger”, explica André, que na web é conhecido como freestyle – uma modalidade de skate – na veia.

A terapeuta infantil Ana Olmos até enxerga benefícios no modismo eletrônico. Reconhece que ajuda na comunicação de crianças introvertidas. “O MSN é positivo, desde que os pais limitem o número de horas. É normal que as crianças se sintam mais à vontade atrás do computador do que cara a cara com qualquer pessoa.
Afinal, é mais fácil, por exemplo, pedir desculpa por escrito”, resume.