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SEGURANÇA
Ana Paula precisou de menos sangue no parto de Eduardo

 

Uma em mil mulheres enfrenta complicações no parto por causa de uma dificuldade para eliminar a placenta – ela invade a parede muscular do útero e não se descola após o nascimento do bebê. “Nesses casos, é preciso agir sem vacilar para poupar a mãe de sofrimento”, diz o obstetra Alberto D’Auria, de São Paulo. A alteração precisa ser corrigida para conter a hemorragia e, assim, diminuir a quantidade de bolsas de sangue transfundidas no procedimento. Em casos graves, elas podem somar mais de 30. Preocupados em reduzir os perigos dessa intervenção, obstetras e cirurgiões vasculares estão se associando para operar essas mulheres de uma forma menos agressiva. “Realizamos uma cirurgia seca, na qual evitamos a grande perda de sangue e a transfusão”, diz D’Auria.

Como isso é possível? Somando conhecimento. O obstetra D’Auria, por exemplo, atua em parceria com o cirurgião vascular Álvaro Razuk, de São Paulo. Eles estão transportando para a ginecologia o uso dos mesmos cateteres usados na angioplastia para desobstruir as artérias que irrigam o coração. “Mas eles servem também para interromper o fluxo sanguíneo”, afirma Razuk.

Nos casos em que a placenta é removida, os cateteres bloqueiam as artérias e interrompem a perda de sangue durante a intervenção. “Sem sangue inundando a região, o cirurgião enxerga melhor a área em que está trabalhando. Isso diminui as chances de lesionar órgãos como a bexiga”, argumenta D’Auria.

A analista de marketing Ana Paula Neves, 39 anos, experimentou os benefícios da técnica. Informada no oitavo mês de gravidez das alterações na sua placenta, foi a primeira a ser operada na Maternidade Santa Joana pelo método. Entre a cirurgia e a recuperação na UTI, ela precisou de 14 bolsas de sangue.

No atendimento a traumatismos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, as cirurgias sem sangue também são o recurso preferencial para pacientes com fraturas da bacia – ocorrências em que há intensa hemorragia interna e risco de morte. Nestes casos, os cateteres levam uma espécie de esponja que fecha as artérias e que, depois, é reabsorvida pelo corpo. Os cateteres são usados ainda, há mais tempo, para tratar miomas e aneurismas. “Mas não são uma opção para todos os casos”, alerta Marcos Vinícius Bittencourt, do Hospital Samaritano. Dependendo da localização e do grau de vascularização, por exemplo, podem não ser indicados.

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