O Brasil vai fazer parte do exclusivo clube dos
países donos da tecnologia necessária para
projetar, construir e lançar satélites em órbita. O projeto do satélite brasileiro, que teve os estudos
de viabilidade elaborados pelo Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), será coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e prevê o lançamento de
três satélites de comunicação com funções múltiplas em 2010. Segundo Sérgio Gaudenzi, presidente da AEB, foi estratégica a decisão do governo de optar
por um programa de desenvolvimento tecnológico,
em vez de simplesmente comprar satélites fabricados por outros países ou alugar espaços, como ocorre hoje em satélites já em órbita ou com lançamento programado. “Deter o conhecimento e o domínio da tecnologia é fundamental para qualquer país. O projeto do satélite nacional e a retomada do programa espacial vão representar um salto do Brasil rumo ao futuro”, afirma Gaudenzi.

Pelo projeto, que deverá custar US$ 1 bilhão nos próximos seis anos, a AEB começa a discutir este mês com a comunidade científica, a indústria e os demais ministérios e órgãos de governo, os detalhes técnicos dos satélites. Além das tradicionais funções de recepção e transmissão de dados, sinais de tevê, rádio, e informações sobre meteorologia, eles vão fazer o controle e a segurança do tráfego aéreo no Brasil dentro de um novo padrão internacional que será implantado no mundo a partir de 2010. Esse foi um dos motivos que levaram o Comando da Aeronáutica a iniciar, em 2001, estudos para um projeto totalmente nacional para o satélite. Os estudos de viabilidade, já concluídos, serão encaminhados este mês para a AEB.

O próximo passo é a aprovação do projeto pelo conselho superior da AEB. Um grupo de trabalho, com representantes de todos os setores envolvidos, será o responsável pelo detalhamento do projeto. Gaudenzi explica que o satélite brasileiro está integrado à retomada do programa espacial, que em agosto de 2003 foi gravemente afetado pelo acidente com o Veículo Lançador de Satélites (VLS), que pegou fogo na torre de lançamento, em Alcântara, no Maranhão, matando dezenas de cientistas e técnicos do CTA. “Vamos trabalhar para que o lançamento do primeiro satélite, em 2010, seja feito por um novo VLS nacional, da família de lançadores que o Brasil desenvolve junto com a Rússia”, afirma Gaudenzi.

A primeira fase do programa espacial é a recuperação e transformação da base de Alcântara em centro espacial. Para isso, o governo pretende gastar cerca de US$ 650 milhões nos próximos anos para construir cinco sítios de lançamento no local, permitindo que sejam feitos 12 lançamentos de foguetes por ano. Isso renderá entre US$ 60 milhões e US$ 100 milhões anuais líquidos para o Brasil, que já tem acordos de uso comum com a Ucrânia e está em negociações com a Rússia e os EUA. “Temos a base mais bem localizada do mundo. Chegou a hora de, além de lucrarmos com o aluguel de nossas instalações, termos nossos próprios lançadores”, afirma Gaudenzi. Ele estima uma necessidade de investimentos anuais de US$ 200 milhões. A renda com os futuros lançamentos de Alcântara será incorporada a esses recursos, seja como verba adicional, seja reduzindo a pressão sobre o Orçamento da União.

Grandes usuários, como as empresas de telecomunicações e os bancos, por exemplo, devem ser convidados a ser sócios do projeto desde o começo. Gaudenzi considera que o novo Centro Espacial de Alcântara, o programa do satélite brasileiro e a família do lançador VLS vão representar para a região de Alcântara o que o Centro Tecnológico Aeroespacial e a indústria de ponta significaram para São José dos Campos, em São Paulo: um estímulo para se tornar uma vitrine tecnológica capaz de competir com os melhores do mundo.