As estatinas são remédios campeões de venda no mundo inteiro. Indicadas para combater alterações nas taxas do chamado mau colesterol –o LDL–, elas ganham cada vez mais importância. Na semana passada, cientistas ingleses e australianos anunciaram que o medicamento pode prevenir males cardiovasculares em pacientes com risco grave para esses problemas não por apresentarem colesterol elevado, mas por serem portadores de outros fatores de risco, como diabete e hipertensão. Para chegar a essa conclusão, os especialistas analisaram 14 pesquisas internacionais, envolvendo 90.056 pessoas acompanhadas durante cinco anos.

Descobriu-se que, para esses pacientes, uma drástica redução do LDL é uma poderosa estratégia para afastar a ameaça de um infarto e de um acidente vascular cerebral (ou derrame), entre outros perigos. A taxa normal do mau colesterol, que vale para a maioria das pessoas, é de 130 mg/dL. Segundo os cientistas, se o indivíduo com alto risco para doenças cardiovasculares apresentar um nível de LDL normal e diminuir 39 mg/dL do total medido, a chance de ocorrência de um evento cai 21%. Se a queda for de aproximadamente 60 mg/dL, o porcentual é ainda mais animador: 33%. O ideal, portanto, é baixar o LDL a menor taxa possível. Afinal, os cientistas asseguram que reduções significativas resultam em maiores benefícios. “Esse trabalho reforça a necessidade de tratamento mais agressivo das alterações de colesterol”, avalia Antônio Felipe Simão, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Os autores da análise, publicada pelo prestigiado jornal The Lancet, salientam a importância de o médico observar o risco global do paciente, sem deixar de controlar também as taxas de gorduras. Para o inglês Colin Baigent, um dos coordenadores do estudo, o fundamental é determinar quem tem alto risco de enfermidades cardíacas ou de AVC para orientar esses pacientes a diminuir substancialmente o nível do mau colesterol. Nesse sentido, um diabético com LDL normal, por exemplo, poderia receber estatinas e assim ficar mais protegido. Faz sentido. Os especialistas estão, de fato, mais atentos à soma dos fatores que enfraquecem a saúde, como pressão alta, cigarro, obesidade, diabete e sedentarismo. “Estamos valorizando as tabelas de risco. Muitos infartos ocorrem em pessoas com colesterol normal”, conta o cardiologista Raul Santos, do Instituto do Coração (InCor), de São Paulo. O risco global pode ser calculado no site da SBC: www.cardiol.br.

Entre os especialistas, há quem defenda que a meta de LDL seja mais baixa do que a atual. Apesar de não ser consenso, existe uma tendência de recomendar às pessoas com alto risco cardíaco um limite de 70 mg/dL para esse tipo de colesterol. Para elas, as estatinas seriam de grande valia. Antes que se inicie uma corrida aos consultórios em busca das pílulas, vale lembrar que a droga pode causar lesão muscular em alguns pacientes. De acordo com Santos, idosos, pacientes com problemas musculares prévios, indivíduos com distúrbios renais e de tireóide, mulheres com baixa compleição física e orientais têm sensibilidade maior ao medicamento. É bom acrescentar que o estudo assinado por ingleses e australianos surgiu para averiguar o risco de a estatina aumentar a ocorrência de câncer, o que não se verificou pela revisão dos trabalhos.

Há mais uma boa-nova relacionada à estatina. Estudo americano feito com 91
mil pacientes idosos revelou que o remédio diminuiu em 36% o risco de fraturas entre aqueles que utilizaram o comprimido, em comparação aos que consumiram placebo. Uma das hipóteses para esse efeito é a melhora das funções dos vasos sangüíneos, o que protegeria os ossos. Outra notícia de destaque na área da cardiologia foi divulgada, também na semana passada, pela revista especializada Circulation. Uma pesquisa austríaca apontou que a presença elevada de uma molécula produzida pelo fígado, a GGT, pode ser mais um marcador de risco cardiovascular. Os cientistas mediram a presença da molécula com um simples exame de sangue. Segundo o trabalho, homens com taxas altíssimas de GGT
estão 68% mais ameaçados de sucumbir a uma enfermidade cardíaca ou a um derrame. Nas mulheres, o índice chega a 51%. Mais estudos devem ser feitos
para confirmar esses resultados.