Basta o inverno dar as costas que as academias ganham outro ritmo. O verão nem precisa ter mostrado a cara para que elas se encham de pessoas loucas para modelar as formas a tempo de entrar no biquíni ou na sunga sem passar vergonha. A idéia de que esse é o melhor momento para cuidar do corpo é unânime. E, para esses novos – e velhos – malhadores, há boas novidades. Desde apetrechos que tornam o fitness também uma atividade fashion – basta olhar alguns dos lançamentos que já estão à disposição em lojas especializadas – até o fato mais importante de que, ao pisarem em uma academia ou enveredarem pelas trilhas da malhação ao ar livre, eles poderão contar com um arsenal de informações cada vez mais sólidas a respeito dos exercícios físicos, seus efeitos para o corpo e como alcançar o objetivo desejado sem desistir no meio do caminho.

Esse arcabouço de conhecimentos hoje disponível é resultado de uma revolução que vem se consolidando nos últimos anos. Com a consagração da verdade de que fazer atividade física é fundamental para uma boa saúde, inclusive a mental, inaugurou-se uma corrida pela obtenção de dados que permitam dar uma solução harmônica, a nosso favor, para a terrível equação “necessidade de fazer ginástica, menos desânimo com os poucos resultados, menos falta de dinheiro para a academia, menos pura preguiça, etc.” Por isso, o que se vê é um esforço para chegar ao resultado correto. Ou seja, aquele que faça com que os pontos positivos superem os negativos. Em sua busca já estavam cientistas das universidades. Agora juntam-se a eles quem, por motivos óbvios, tem enorme interesse no assunto: as academias. Elas querem saber de tudo. Desde quem são seus alunos e quais os seus hábitos até como fazer para que eles não fujam após algumas semanas.

Essas empresas estão investindo não apenas em aparelhos modernos, mas também em pesquisa. Foi com essa proposta, por exemplo, que nasceu em janeiro o Instituto Runner de Pesquisa e Ensino, criado pela rede Runner Academia, de São Paulo. O objetivo é desenvolver estudos relacionados à prática de exercícios, sua relação com a saúde e o bem-estar e elaborar projetos de trabalho que tornem o fitness cada vez mais atraente para os alunos. “Com as informações obtidas nos centros de avaliação, criaremos programas ajustados às necessidades e objetivos de cada um”, afirma Mauro Guiseline, coordenador do instituto. Segundo ele, a academia é um espaço para cuidar de pessoas e, como tal, precisa ter seu trabalho focado na saúde. “Essa tarefa exige conhecimento e preparo”, diz. Num exemplo de intercâmbio de conhecimento, a iniciativa conta com a colaboração de especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto Dante Pazzanese, entidade paulista especializada em cardiologia.

A nova atitude tem rendido frutos interessantes. Entre as principais descobertas feitas até agora está a certeza de que é preciso adequar o tipo de exercício e até mesmo o local no qual ele é realizado para que a adesão ao treinamento seja definitiva. Essa informação tem levado as academias a oferecer um atendimento mais individualizado no sentido de conhecer melhor cada aluno e encaminhá-lo para o que de verdade vai lhe dar prazer e a sensação do dever cumprido. Na rede carioca A!Body Tech, por exemplo, já há atenção especial para obesos e idosos. “São pessoas que estão longe das academias nem sempre por falta de vontade, mas, às vezes, por não se sentirem à vontade no local. Fazemos um trabalho focado no resgate da auto-estima e na melhora da qualidade de vida”, afirma Amauri Marcello, diretor técnico da A!Body Tech.

Essa tendência de criar uma “ciência da malhação” é vista com bons olhos por pesquisadores do assunto. Para a professora Vera Aparecida Madruga, do laboratório de fisiologia do exercício da Universidade Estadual de Campinas (SP), essa mudança de mentalidade, que privilegia a informação em detrimento do exercício massificado e sem embasamento, é um avanço importante. De fato, até algum tempo atrás, as academias produziam mais doença do que saúde. “A maioria não fazia avaliação física, fundamental antes de se iniciar um treinamento porque identifica possíveis problemas. Hoje, as boas academias estão mais comprometidas com esse aspecto. Os programas são mais conscientes e levam em conta, acima de tudo, os limites do corpo. Essas iniciativas ajudam a diminuir, por exemplo, as chances de lesões”, afirma a professora. Na opinião do empresário Edgar Corona, presidente da Bio Ritmo, outra grande rede de São Paulo que realizou uma ampla investigação sobre as preferências e necessidades de seus freqüentadores, o trabalho que se faz atualmente dentro das academia não tem reflexo só no presente. “Os jovens que hoje freqüentam esses estabelecimentos serão os idosos de amanhã. Com um diferencial: mais saudáveis”, acredita.