Na sexta-feira 30, o clima na Daslu, o templo brasileiro do consumo, era de marasmo. Por trás dos constantes – e engessados – sorrisos dos vendedores, hostess e seguranças havia uma preocupação indisfarçável. Ao longo da semana, a demissão de 150 pessoas havia caído como uma bomba. A meca do luxo, comandada pela empresária Eliana Tranchesi, sentiu o baque da devassa fiscal realizada em julho pela Receita e Polícia Federal. A queda do movimento dos endinheirados, que fugiram da exposição pública do caso, somada à acomodação às palacianas instalações, conduziu a Daslu a um eufemismo conhecido no meio empresarial: reestruturação, leia-se demissão de funcionários. Até para a suntuosa Daslu havia ascensoristas, vendedores, guias e garçons demais, e as finanças da empresa não poderiam mais se dar a esse luxo. “O número de empregados foi superdimensionado para a nova loja”, admitiu a ISTOÉ uma fonte ligada à reestruturação. Na terceira nota oficial, divulgada na tarde de sexta, a empresa garantiu que “o remanejamento de pessoal e os desligamentos não acarretarão prejuízo no tradicional nível de atendimento”.

Enquanto carros importados de centenas de milhares de reais paravam ao lado de solícitos manobristas, o dia seguinte às demissões, para os clientes, parecia ameno. “Ai, que calça linda. Onde você comprou?”, perguntou uma moça de, no máximo, 30 anos, maquiada e de celular na orelha para outra mulher igualmente elegante e de celular na mão. “Nos Estados Unidos”, respondeu ela. As amenidades das duas clientes ecoaram em um templo vazio. Havia muito mais vendedores do que compradores. O único local cheio era o restaurante Leopolldina. Após a mudança para o novo palácio às margens do rio Pinheiros, a freqüência aumentou 87% devido à curiosidade despertada pelas suntuosas instalações. O mundo Daslu é formado por dois restaurantes, spa, cabeleireiro, heliponto e 123 das mais caras e famosas grifes do mundo (63 internacionais). Contando com isso, a empresa contratou 300 funcionários, que se juntaram aos outros 600 da loja da Vila Nova Conceição – número já considerado excessivo pela Íntegra Associados, consultoria responsável pela reestruturação e também incumbida de sanear as finanças da Parmalat do Brasil.

Liquidação – Segundo funcionários, os gerentes tentam passar a impressão de que a empresa não está em dificuldade. Mas o clima, principalmente entre os vendedores, é de que as perspectivas futuras não são boas. A constatação óbvia é que o movimento despencou. Alguns acham que a queda brusca é conseqüência direta da ação da Receita e da PF. Outros consideram o próprio projeto da Daslu superdimensionado para o nível de renda do País. Mas é fato que a devassa fiscal afetou a empresa: a nova coleção de roupas de inverno (a loja segue as tendências do Hemisfério Norte) está atrasada. Algo estranho para quem sempre teve as novidades em primeira mão. O grande teste para a Daslu virá em breve, quando uma liquidação (de até 30% dos preços) tentará queimar várias peças do estoque ao mesmo tempo que pretende turbinar as vendas da nova coleção – que, até lá, a Daslu espera que já estejam nas prateleiras.