A barbárie da execução de uma criança de três anos, metralhada por PMs no Rio de Janeiro, choca o País e escancara o inaceitável despreparo policial para cumprir sua missão essencial: a segurança da população. Famílias dilaceradas expõem seu sofrimento quase semanalmente, numa rotina inacreditável, insuportável e alarmante de casos que parecem não ter fim. A dor sem consolo dos pais de João Roberto, o menino morto, bate fundo no coração de todos os cidadãos que querem respostas – rápidas, definitivas, efetivas. Quantas mortes mais serão necessárias para que as autoridades escalem como prioridade absoluta a segurança? As estatísticas de crimes hediondos ultrapassaram todos os limites. Mesmo os de países em estado de guerra. E no caso de crimes cometidos por autoridades fardadas não há paralelo possível. Poucos dias antes de João Roberto, o jovem Daniel Duque, 18 anos, foi morto sem piedade, por um PM na porta de uma boate. A engenheira Patrícia, de 24 anos, quase ao mesmo tempo, foi atacada por PMs a caminho de casa. A criança Ramon, de seis anos, tombou vítima de uma bala da polícia em ação nos morros. Dois garotos em São Paulo também perderam a vida logo após a rendição a policiais, quando não ofereciam mais nenhuma resistência. O hiato entre os casos é de semanas. Está claro o despreparo em cada uma das situações. PMs são treinados em menos de três meses e saem às ruas com autorização para matar, exibindo armas em punho, num comportamento ostensivo, irresponsável e assustador cujo resultado previsível é o pior possível. No caso do menino João Roberto, de três anos, ele se encontrava ao lado de seu irmão de nove meses, no carro conduzido pela mãe, quando uma abordagem policial tresloucada os transformou em alvos diretos de tiros fatais. A mãe do menino, desesperada, saiu do carro a pedir que os policiais parassem. Em vão. Foi também alvejada. Dias depois, o comandante do batalhão da PM, coronel Loury, rindo inexplicavelmente, comentou a operação: “Os PMs reconheceram que houve uma merda muito grande.” A simples expulsão dos policiais envolvidos na história não sana o desejo de justiça. A punição exemplar, com a prisão dos responsáveis, é apenas a primeira escala rumo a uma moralização e profissionalização da tropa. Consumido pelo sofrimento, o taxista Paulo, pai do garoto morto, pediu um direito que antes parecia elementar, mas que virou privilégio: o de que sua família e a dos demais brasileiros possam voltar às ruas sem medo de levar um tiro a cada esquina. Seu apelo angustiado encontra eco em toda a população.