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O dólar baixo é a senha: produtos importados vão ficar mais baratos no mercado nacional. Isso, de fato, está acontecendo e, em vários setores, a importação de bens tem sido um antídoto contra pressões inflacionárias. Somadas a acordos comerciais bilaterais, que reduzem ou até eliminam tarifas de importação de produtos vindos de determinados países, as possibilidades de queda de preço poderiam ser até maiores. Não é o que acontece, no entanto, na área automobilística. Levantamento feito pela revista Motor Show, especializada no mercado de automóveis, revela que, apesar das isenções desses tributos, veículos fabricados em países com os quais o Brasil mantém acordos dessa natureza continuam tendo, nas concessionárias brasileiras, preços bastante superiores aos praticados nas revendas das nações de origem. O caso mexicano é emblemático. Mesmo com a isenção total dos 35% de imposto de importação vigorando desde 2002, carros fabricados no México custam aqui entre 44% e 84% a mais que lá, mesmo depois de somados valores referentes a margens de lucro, investimentos em marketing, despesas com tributos internos (como ICMS, IPI, PIS e Cofins), logística e transporte e adaptação às normas técnicas brasileiras (confira tabela). Assim, o que os deixaria mais acessíveis para o consumidor brasileiro tem sido mais vantajoso para as montadoras.

O estudo, realizado em parceria com a consultoria CSM Worldwide, analisou 11 carros de quatro marcas – Ford, Volkswagen, Nissan e Honda. Depois, repetiu a análise, desta vez com seis modelos de quatro montadoras – Volks, Audi, BMW e Honda – importados de países com os quais o Brasil não possui acordos automotivos. Os resultados foram bastante diferentes. No segundo caso, os preços praticados no mercado brasileiro permitem um ganho menor aos fabricantes – entre 0,7% e 42%. "As margens de lucro com os carros mexicanos é fantástica", conclui Paulo Cardamone, diretor do braço brasileiro da CSM Worldwide e responsável pelo Serviço de Previsão de Produção de Veículos na América do Sul. Com 29 anos de experiência na indústria automotiva, Cardamone afirma que não há uma única razão para que os preços praticados aqui sejam mais altos que os de lá. Em primeiro lugar estaria o próprio mercado, que não exige uma política mais agressiva de redução nas tabelas. Com os preços dos veículos nacionais e importados de outras regiões mais altos, não interessa às montadoras vender seus modelos mexicanos muito abaixo do valor de seus concorrentes, reduzindo sua margem de lucro. Em alguns casos, trabalhar com preços menores poderia até mesmo "canibalizar" outros carros da marca produzidos no Brasil, mas de categoria inferior. "O mercado é equilibrado pelos altos preços internos. Com o preço de um Mille 1.0 no Brasil compra- se um Honda Fit completo nos Estados Unidos", explica.

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Parte da explicação pela disparidade dos preços dos automóveis no Brasil e em outros países deve-se, sem dúvida, à taxa de câmbio, que de fato faz com que, convertidos para o dólar, os carros nacionais estejam entre os mais caros do mundo. Além disso, a indústria automobilística brasileira sofre com os pesados encargos tributários – os impostos sobre produção e comercialização chegam a 35% do valor dos veículos. Com uma carga menor, alegam as montadoras, haveria uma sensível redução nas tabelas. Procuradas, elas informaram que, em virtude de a composição de preços de seus veículos ser um assunto estratégico e sigiloso, não comentariam o levantamento. A Ford, através de sua assessoria de imprensa, afirmou que o sedã Fusion – o mais vendido dos mexicanos no Brasil – "exige adequação de itens às normas locais, bem como ao combustível do País" e que "a incidência dos custos de logística e transporte marítimo e terrestre tem forte impacto no preço de um veículo". As respostas de Volks, Nissan e Honda seguiram pelo mesmo caminho.