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As praias da zona sul carioca são cartões-postais do País. O trecho entre o Leme e o Leblon, passando por Copacabana e Ipanema, é uma verdadeira ode à democracia, onde todos, de bermudas e maiôs, são iguais. Quer dizer, eram. As areias dessa badalada orla estão cada vez menos públicas e cada vez mais sitiadas. Não é fácil – às vezes, é impossível – arriscar um jogo de vôlei com os amigos nas dezenas de quadras espalhadas pelo território porque, aos poucos, as redes têm sido "privatizadas". A prefeitura concede licenças de dois anos, renovadas anualmente, para quem quiser administrar o espaço. Leva em conta o critério de antigüidade na área para dar a autorização. Resultado: o licenciado acaba virando o dono do pedaço e, para isso, tem apenas de cumprir tarefas simples, como fornecer uma cota de sacos de lixo biodegradável à prefeitura. Dessa forma, o carioca comum ou o turista só consegue bater uma bolinha nas quadras quando a turma que administra acaba de jogar. Se o dono deixar, é claro.
Segundo o técnico Marcelo Del Negro, o Alemão, treinador de duplas como Virna e Ângela, os atletas treinam durante a semana e dividem os custos com os donos, que usam a área nos fins de semana. "Se não houvesse administração, sabemos que esses locais ficariam abandonados", diz. Abandonado? Um trecho de praia em pleno Leblon? Para a jogadora Virna, o modelo de administração incentiva a prática do esporte: "Acho justo que as pessoas que foram criadas na região tenham preferência."
Para a geógrafa da secretaria municipal de Meio Ambiente, Silma de Santa Maria, a praia continua sendo um local público, mesmo com as intervenções. "Procuramos apenas uma forma de disciplinar seu uso", defende. O prefeito Cesar Maia acha que se trata de uma tradição das areias cariocas: "Quando eu era criança, em Ipanema, elas já existiam", disse à ISTOÉ, por e-mail. Mas, como argumentou uma moradora do mesmo bairro, que pediu para não ser identificada, não é justo que apenas um pequeno grupo de privilegiados tenha o direito de jogar vôlei nestas praias. "Os mesmos, há anos."