A Justiça do Rio de Janeiro autorizou, na última segunda-feira, a transferência do traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu, do conjunto penitenciário de Bangu para o presídio federal de Catanduvas (PR). Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, a autorização foi encaminhada à Secretaria de Segurança do Estado. Cabe agora à secretaria tomar as medidas de segurança para a transferência. Segundo O TJ, o horário e o dia não devem ser divulgados por questões de segurança.

Tido como o responsável por queimar o corpo do jornalista Tim Lopes, morto em junho de 2002 no Rio, Zeu tinha um histórico de crimes bárbaros que rendiam a ele a imagem de criminoso de alta periculosidade. Para a Polícia Militar (PM), entretanto, as circunstâncias de sua prisão na tarde de domingo, dia 28 de novembro, quando foi flagrado escondido embaixo de uma cama no Complexo do Alemão, demonstraram a sua fragilidade diante do cerco das forças de segurança.

"O Zeu, que era procurado há quatro anos pela polícia, foi preso embaixo da cama, protegido por familiares. Todos o viam como um traficante de alta periculosidade. Por essa cena, podemos concluir que eles (traficantes) são frouxos, são frágeis", afirmou o coronel Lima Castro, relações públicas da PM.

Segundo a PM, Zeu não estava armado e se entregou à polícia após ser cercado. O traficante foi condenado a 23 anos de prisão pela morte de Tim Lopes, mas estava foragido da Justiça desde 2007, quando conseguiu sair da cadeia graças a uma saída temporária. Ele fazia parte da lista dos criminosos mais procurados pela polícia do Rio, com recompensa de R$ 10 mil para informações que levassem à sua recaptura. Zeu também é suspeito de ter participado da invasão do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio, e da ação que derrubou o helicóptero da PM, em outubro do ano passado, segundo inquérito da Polícia Civil.

Segundo Lima Castro, o grande número de homens empregados na operação no Complexo do Alemão e a cooperação entre as polícias Militar, Civil e Federal e as Forças Armadas facilitaram a prisão de Zeu. "A forma com que foi organizada a operação de domingo permitiu que um tenente com apenas quatro anos de serviço fizesse a prisão sem que houvesse qualquer resistência", afirmou o coronel.
 

Bazuca

Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) destruíram nesta quarta-feira uma casamata do tráfico na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Militar, o Bope e as forças integradas pelas Polícias Civil, Militar, Federal e Forças Armadas continuam nos Complexos do Alemão e da Penha em busca de criminosos e drogas.

No Complexo do Alemão, a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ) apreendeu uma bazuca em uma casa no início da tarde de hoje. A bazuca foi encontrada por policiais do 3.º Batalhão da Polícia Militar e estava escondida no alicerce da casa, embrulhada em uma sacola de plástico.

Incineração na CSN

Cerca de 42 toneladas de drogas apreendidas no Rio de Janeiro desde o dia 22 serão incineradas hoje, na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, na Baixada Fluminense. Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, a CSN foi escolhida pela proximidade do Rio, onde as drogas foram apreendidas, e por ter um forno de alta potência. A secretaria informou também que esta não é a primeira vez que a CSN cede seu forno para a incineração de drogas.

Alguns dados da operação não foram divulgados por medida de segurança. Por isso, não foi informado o horário da incineração e nem o de saída dos caminhões que farão o transporte das drogas da Academia de Polícia Civil, no centro do Rio, onde a droga está armazenada, até a CSN. A fiscalização ao longo da Rodovia Presidente Dutra será reforçada durante o dia de hoje e a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) montaram um esquema especial de segurança.
 

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 Soldados do Exército que patrulham a rua Dona Emília, próximo a um dos acessos ao Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, foram atacados a tiros por volta das 2h da madrugada desta quarta-feira (1º). Os suspeitos dispararam do interior da comunidade e fugiram. Os militares montaram uma barricada com sacos de areia para se proteger. Ninguém ficou ferido. Após a troca de tiros, a madrugada foi de aparente tranquilidade no complexo.
Este foi o primeiro incidente registrado no Complexo do Alemão desde a ocupação da comunidade pelas Forças Armadas, no domingo (28). Ninguém foi preso.

Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.

Exército
Baía de Guanabara patrulhada pela Marinha. Envio de tropas e equipamentos militares para cercar e livrar outras comunidades fluminenses do tráfico e garantir investimentos sociais nesses lugares. Repetição da parceria entre polícias e Forças Armadas em outras capitais com problemas de segurança. O sucesso da invasão no Complexo do Alemão, no domingo, deixou a presidente eleita, Dilma Rousseff, entusiasmada e vai servir de modelo a novas ações em seu mandato, que acaba cinco meses depois da Copa de 2014.
O Rio de Janeiro foi considerado um excelente "laboratório", com resultados "mais do que satisfatórios", para testar o uso de Exército, Marinha e Aeronáutica no combate ao crime. Por isso, deve ser repetido. O tema foi debatido na noite de anteontem em Brasília durante reunião entre o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, a presidente eleita e o futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
O relato do encontro entre o grupo foi feito à reportagem por Pezão. Das três horas de reunião, duas foram ocupadas pela parceria. "Nós não queremos cargos nem ministério. Queremos ajuda das Forças Armadas na segurança pública e para fazer obras dentro das favelas", disse Pezão.
Segundo o vice-governador, o modelo de parceria entre Exército e polícia deve nortear a política de segurança pública da presidente eleita, que vai suceder dois mandatos presidenciais duramente criticados pela omissão no setor.
"Dilma se mostrou entusiasmada em poder colocar tanto homens quanto equipamentos à disposição. Quando assumiu, o governador Sérgio Cabral disse que até o fim do mandato iria entregar todos os territórios livres de milícias e do tráfico. Esse objetivo se torna mais concreto com a parceria que nos foi oferecida", afirmou Pezão.

Moradores

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 Para obter mais informações sobre criminosos, a Polícia Militar (PM) vai circular com carros de som no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pedindo que os moradores denunciem rotas de fuga e esconderijos de armas e drogas. Em mensagens gravadas e panfletos, a população será convocada a "fazer parte das tropas de elite da paz" – uma estratégia de conquista psicológica dos civis, semelhante à que foi adotada pelas tropas de paz no Haiti.
A Polícia Civil localizou nessa terça-feira (30) nova rota subterrânea usada pelos traficantes para escapar do cerco policial. Os criminosos entraram na rede de galerias por uma caixa coletora na rampa do Largo do Coqueiro e saíram na Rua Arapá, que dá acesso ao Morro do Adeus. De acordo com o agente Marcelo Darze, moradores disseram que pelo menos 50 pessoas usaram a galeria para escapar do cerco, na noite de sábado. Muitos fugiram com armas.
A descoberta das galerias fortalece a tese de que os traficantes usaram a rede de galerias de águas pluviais construídas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para fugir.

Saques
Com medo de ter a casa arrombada, vários moradores do Complexo do Alemão não foram ao trabalho na terça e preferiram ficar em casa de vigília, para esperar possíveis abordagens policiais. Houve queixas de furtos e saques. As revistas eram o assunto do dia nas mesas de bares e restaurantes da região. Segundo os moradores, os policiais estão destruindo portas, fechaduras e portões das residências que querem vasculhar, mas que não há ninguém na hora – e saqueadores acabam furtando objetos, eletrodomésticos e móveis depois.
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, foi enfático ao falar sobre a punição para desvios de conduta. "O policial militar será colocado para rua com a tropa em forma, ação que há 30 anos não acontece na PM", declarou. O corregedor-geral, Giuseppe Vitagliano, revelou que 20 agentes do órgão estão circulando em veículos descaracterizados e à paisana para flagrar abusos de policiais civis e militares nas ocupações. "Isto foi previamente planejado. Já esperávamos que abusos ocorressem", disse.