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Os relógios marcavam 5h. Faltava meia hora para o horário previsto do pouso do vôo 981 da American Airlines, procedente de Dallas (EUA), na segunda- feira 7, quando o comandante avisa que retardará a aterrissagem porque o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, está fechado devido à forte neblina. Frustração geral no 767-300. Entre os passageiros que lotam a aeronave, famílias retornando de férias, adolescentes voltando para casa após um ano de intercâmbio, brasileiros residentes no Japão, que haviam iniciado a viagem 24 horas antes, homens de negócio. Era o início de uma longa jornada, mais longa que o vôo de dez horas entre Dallas e São Paulo, e que mostra como a falta de infra-estrutura dos aeroportos e das companhias aéreas pode transformar uma viagem no caos.

Naquela manhã, com o fechamento do aeroporto entre 3h33 e 8h11, metade dos vôos que se destinavam a Cumbica atrasou. Pela ausência de um equipamento de US$ 2 milhões, o ILS 3 (Instrument Landing System), que permite o pouso em condições de clima adverso, como na neve na Europa e nos Estados Unidos, 31 aeronaves foram desviadas – 15 para o Rio de Janeiro, 13 para Campinas, duas para Minas Gerais e uma para Ribeirão Preto. Desses vôos, 21 eram internacionais, entre eles o 981 da American Airlines, que após sobrevoar São Paulo por uma hora seguiu para o Galeão, no Rio, onde pousou por volta das 6h45. Este tipo de transtorno macula a imagem do Brasil, país que quer se vender como um bom destino turístico para os estrangeiros.

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O fato é que um ano após o trágico acidente da TAM, que matou 199 pessoas em Congonhas, a maioria das promessas do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para revitalizar o setor aéreo não se concretizou: 1) a obra do novo aeroporto da capital paulista deveria ter sido iniciada em outubro do ano passado, mas só deverá começar a sair do papel em 2010 e levará dez anos para ficar pronta; 2) o plano de ressarcir os passageiros por vôos atrasados e multar as empresas ainda não foi aprovado pelo presidente; 3) as 32 obras do PAC nos aeroportos ficaram praticamente paradas no mês passado; 4) o ILS 3 só existe em Porto Alegre. Há a promessa de instalá-lo em outros Estados até o fim do ano. O mais grave é que os dez mil aeroviários do País ameaçam entrar em greve nos próximos dias.

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Os passageiros do vôo 981 levaram mais de 24 horas para ir do Rio a São Paulo. Logo após a aterrissagem no Galeão, o comandante informou que a aeronave seria abastecida para poder retornar à capital paulista. Como o caos reinava em Cumbica e o horário-limite de trabalho da tripulação se aproximava, os passageiros foram informados de que desembarcariam no Rio. "Estamos aguardando, apenas, o ônibus da Infraero", dizia o comandante. Foram quase três horas de espera. Neste intervalo, um senhor de 73 anos, cardíaco, começou a passar mal, com enjôo, sudorese e sinais de pressão alta. A família pedia oxigênio, uma ambulância. A tripulação ofereceu água. A ambulância levou 25 minutos para chegar ao avião e, mesmo passando mal, o passageiro desceu as escadas andando. No posto médico do aeroporto foi constatado que a pressão arterial estava muito elevada (24 por 14, enquanto o normal é 12 por oito). Ele foi transferido para a UTI de um hospital no Rio, onde ficou internado até o final da semana.

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O desembarque do ônibus da Infraero aconteceu em uma área antiga do Galeão, sem escadas rolantes e onde apenas um equipamento de raio X funcionava. Naquela manhã, sucessivos picos de luz atrasavam ainda mais a entrada oficial em solo brasileiro. Na área reservada para pegar as malas e o Duty Free, a aglomeração piorava o ânimo do grupo, que teve de esperar uma hora e meia pela chegada da bagagem. Quem tinha conexões era orientado a procurar o balcão da companhia para ser reacomodado. Os passageiros que tinham como destino final São Paulo foram encaminhados para um hotel, onde chegaram depois do meio-dia. A expectativa era que embarcassem em um vôo às 18h25. Mas no hotel, nova surpresa. A American Airlines disse aos funcionários da recepção – nenhuma informação foi oficialmente passada aos passageiros – que a viagem para São Paulo só ocorreria no dia seguinte. Todos foram acordados às 5h da terça-feira 8 porque o ônibus partiria para o Galeão às 6h e o vôo decolaria às 8h. Mas, devido à neblina em São Paulo, foram mais duas horas de atraso. Este é um retrato do caos a que o viajante brasileiro está sujeito.

Colaborou Hugo Marques