30/11/2010 - 12:09
Trinta e três toneladas de maconha foram apreendidas entre as 8 horas de domingo, início da operação das polícias Civil e Militar e do Exército contra o crime no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, até as 10 horas de hoje. Segundo balanço oficial da Secretaria de Segurança Pública, foram apreendidos também 235 quilos de cocaína e 37 quilos de crack, 1.400 frascos de lança perfume e 208 quilos de cargas aditivas para cocaína. Também foram recuperadas 135 armas longas, entre fuzis e metralhadoras.
Uma semana depois do primeiro ataque de traficantes que levou o terror às ruas do Rio, 2.700 homens da Polícia Civil, da Polícia Militar (PM), da Polícia Federal (PF) e das Forças Armadas entraram no Complexo do Alemão, no domingo. Não houve o combate que a polícia esperava, o que evitou uma guerra sangrenta. A polícia hasteou uma bandeira do Brasil e outra do Estado do Rio no ponto mais alto do morro.
As Forças Armadas vão ceder dois mil homens ao governo do Rio de Janeiro para o patrulhamento interno do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro até meados de 2011. A solicitação do contingente militar será formalizada hoje pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ao Ministério da Defesa. Cabral conseguiu a garantia de homens do Exército, Marinha e Aeronáutica para patrulhar as duas favelas depois de reunião de mais de três horas, ontem à noite, com a presidente eleita, Dilma Rousseff.
"As Forças Armadas fazem um trabalho de campo, de patrulhamento interno. Há necessidade de um contingente significativo para o Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro", disse Cabral. O encontro do governador com Dilma foi na Granja do Torto, em Brasília, a portas fechadas, e contou com a participação do vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o deputado Antonio Palocci, provável ministro da Casa Civil do futuro governo.
Segundo o governador, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) usarão sete mil homens nas favelas cariocas, em 2011. "Essa retomada de território já se deu em várias comunidades. Esse modelo da UPP existe há dois anos. É um modelo que deu certo. E agora com essa novidade, no momento no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. Em outras comunidades igualmente complexas o que a gente é percebe é a parceria, a camaradagem para o bem", afirmou Cabral. Ele informou que hoje será inaugura da UPP do Morro dos Macacos, onde há cerca de um ano os bandidos derrubaram um helicóptero da Polícia Militar.
Investimentos
Cabral informou ainda que conversou com Dilma Rousseff sobre investimentos no Estado. Lembrou que em 2014 será realizada a Copa do Mundo e, em 2016, as Olimpíadas. A ideia, segundo o governador, é fazer investimentos na área de infraestrutura, em especial em obras de saneamento e em transportes. "Nós temos o desafio de fazer no Rio de Janeiro nos próximos seis anos mais de três décadas em infraestrutura", disse o governador.
Na conversa, Dilma confidenciou ao governador a proposta de criar uma secretaria específica para tratar da aviação civil e dos aeroportos, conforme antecipou o Estado. "Minha alegria é a presidente ter um olhar específico para infraestrutura aeroportuária", disse Cabral.
Mutirão de serviços na zona norte
As equipes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos iniciam hoje um conjunto de ações que inclui melhoria nos serviços e obras de urbanização no Complexo do Alemão e comunidades da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Entre os trabalhos estão coleta de lixo, recuperação da iluminação e da pavimentação.
Os primeiros locais a receber os serviços serão as principais vias de acesso ao Complexo do Alemão, como as ruas João Rego, Antonio Rego, Paranhos, Diomedes Trota, Estrada do Itararé e Avenida Itaóca. Já na área da Penha, o trabalho abrangerá o entorno da Praça São Lucas, as ruas Soldado Vasco, Paul Miller, Soldado Paiva, Professor Otávio de Freitas e a Avenida Nossa Senhora da Penha.
O Complexo do Alemão foi ocupado no domingo pelas Polícias Civil, Militar, Federal e das Forças Armadas em uma operação contra o tráfico. Mesmo contrariado, o Exército vai permanecer no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro até julho de 2011. As tropas federais substituirão as Polícias Civil e Militar nas duas comunidades ocupadas.
A avaliação da cúpula da Força é que há um consenso político, irradiado a partir do Planalto, que prega a permanência das tropas e torna a ampliação da missão irreversível. Acrescente-se ainda o clamor da população, que apoiou maciçamente a operação contra o tráfico.
A pressão política já era notada pela manhã, quando o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), anunciou a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, na zona norte, para 2011. Todo o processo deve levar de seis a sete meses. Esse é o tempo estimado para a realização de concursos públicos e treinamento dos policiais militares que vão atuar nas comunidades.
Polícia reforça ofensiva salarial
Embalados pela repercussão positiva das operações de ocupação na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, os policiais cariocas prometem aumentar a pressão para a aprovação da proposta de emenda constitucional 300 (PEC 300), que cria o piso nacional para a categoria.
A faixa, pendurada bem ao lado do quartel-general das forças que atuam na ocupação no complexo de favelas na zona norte do Rio, denuncia: "R$ 30 por dia: valor da vida de um policial e de um bombeiro no Rio de Janeiro." Bem ao lado, a inscrição "PEC 300/2008" mostra que, após o sucesso da invasão do Complexo do Alemão, o momento é adequado para as reivindicações. "Agora temos o apoio de toda a população. Ir contra a PEC é ir contra todo mundo que apoia a Polícia do Rio", explicou um policial militar que não quis se identificar com medo de represálias.
Policiais que participavam das operações no Alemão reclamavam das condições de trabalho e do salário. "É mentira isso que estão falando, que policiais se apresentaram voluntariamente para ajudar. Foi ordem direta. Agora, estamos trabalhando extra, sem ganhar nada a mais por isso, e com um salário mal pago", disse outro PM, que pediu anonimato.
Para o presidente da Associação dos Ativos e Inativos da Polícia e Bombeiros Militares (Assinap), Miguel Cordeiro, a polícia fluminense é a mais mal paga do Brasil. "Hoje, um policial no Rio tem vergonha de falar que é policial, o salário é ridículo", disse. "Se nossos policiais ganhassem bem, toda a população sairia ganhando", acrescentou.