Para quem tem a cumprir uma pena de 13 anos de prisão por crimes financeiros, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola chegou ao Rio, na madrugada da quintafeira 17, exibindo otimismo incomum. Procedente de Mônaco, onde foi preso pela Interpol, nem parecia ser o pivô do escândalo que levou à condenação de oito pessoas por drenar R$ 1,57 bilhão dos cofres públicos em 1999. A operação tentou salvar da bancarrota os bancos Marka e FonteCindam e entre os condenados estão o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, e a diretora de fiscalização do BC, Tereza Grossi. O caso levantou suspeitas de favorecimento por parte do governo Fernando Henrique Cardoso. No seu retorno, o ex-dono do banco Marka estava à vontade. Distribuiu sorrisos, foi atencioso com a imprensa e não escondeu o que espera da Justiça brasileira: nada menos que conseguir a liberdade. "Todos os demais condenados no mesmo processo estão livres, ganhando dinheiro", alfinetou. Depois da entrevista na Superintendência da Polícia Federal, no Rio, Cacciola foi levado para a penitenciária de Bangu 8, na zona oeste. Nos corredores da política e do mercado financeiro, existe a convicção de que o sorriso do ex-banqueiro esconde segredos ainda capazes de arranhar reputações do ninho tucano. Espera- se que nos próximos dias Cacciola volte a falar. Segundo Alan Bousso, um de seus advogados, ele deverá "contar tudo" o que aconteceu entre 1999, quando estourou o escândalo, e 2005, ano em que foi condenado. O advogado acredita que a extradição de Cacciola tenha conotação eleitoreira, pois pode favorecer o Partido dos Trabalhadores. "O pegaram como bode expiatório, porque tudo aconteceu na gestão de FHC", explicou Bousso. Contra todas as evidências, o ex-banqueiro negou que tivesse fugido. "Não sou foragido e confio na Justiça brasileira", disse. "Estava sempre à disposição da Justiça; a diferença é que eu estava na Itália." O procurador Artur Gueiros, representante do Ministério Público Federal no processo de extradição, pensa diferente. "Antes da fuga arquitetada, Salvatore Cacciola dilapidou o patrimônio que tinha no Brasil, em clara pretensão de se furtar da aplicação da lei penal."

Em 2000, Cacciola foi para a Itália, graças à liminar do ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, que cancelou sua prisão preventiva. Teve pedido de extradição negado, em 2001. A prisão do exbanqueiro e suas possíveis revelações devem movimentar nas próximas semanas o já pesado cenário político brasileiro.