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ONTEM E AMANHÃ
O estádio na época da construção (abaixo), para a Copa de 1950,
e a maquete de como ficará ao fim da reforma (acima)

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A arena de futebol que ganhou fama internacional por ser a maior do mundo já não ostenta mais esse título (que hoje pertenceria ao May Day, na Coreia do Norte), mas, nem por isso, o “Rei dos Estádios” perdeu a majestade. O Maracanã chega aos 60 anos como o segundo ponto turístico mais visitado do Rio de Janeiro, atrás apenas do Cristo Redentor, segundo a Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Lazer. O sessentão está, atualmente, passando por uma plástica: a reforma estrutural, orçada em R$ 705 milhões, que o adequará aos padrões da Federação Internacional de Futebol (Fifa) para a Copa de 2014. Batizado de Mário Filho – homenagem ao jornalista irmão de Nelson Rodrigues – e apelidado com o nome do rio que corta o bairro onde está localizado, a Tijuca, o Maracanã escapou da demolição por ser tombado. Precisará mudar bastante, mas continuará de pé. Ainda bem. Entre políticos, artistas, religiosos e, claro, atletas, nomes como a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, o cantor Frank Sinatra, o papa João Paulo II e o Atleta do Século, Pelé, fazem parte de sua história. Algumas estrelas internacionais marcaram a trajetória no estádio, como a cantora Tina Turner, cuja apresentação, em 1988, entrou para o “Livro dos Recordes” como o maior show de uma cantora solo. Foram 188 mil fãs.

Um monumento, um templo ou uma relíquia. Essas são algumas das designações dadas ao estádio, segundo o jornalista João Máximo, um dos autores do recém-lançado livro “Maracanã 60 Anos” (Buenas Ideias), um minucioso trabalho de pesquisa repleto das glórias, e também das tristezas, do Maraca, como é carinhosamente chamado pelos torcedores. Um dos momentos mais marcantes foi a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950, competição para a qual a arena foi construída. Foi o maior público, quase 200 mil pessoas. Infelizmente, para chorar a perda do título mundial. Mas quando as obras que fecharam o estádio em setembro chegarem ao fim, provavelmente em dezembro de 2012, o Maracanã só terá espaço para 76 mil torcedores. Trata-se da terceira (e mais radical) reforma em pouco mais de uma década. Cada uma delas foi reduzindo a capacidade da arena. De acordo com a maquete apresentada na semana passada durante uma feira internacional de futebol no Rio, o Maracanã deixará de ser azul para voltar ao cinza, sua cor original.

A vista aérea do estádio, que já virou um cartão-postal da cidade, ficará totalmente diferente. O Maracanã ganhará uma cobertura futurística cujo objetivo é proteger os torcedores das adversidades climáticas. Esse mesmo teto acabará encobrindo outra transformação radical, mais percebida de cima: a geometria interna da arena, que era redonda e ficará oval devido a um rearranjo nas cadeiras, para aumentar a visibilidade. Tudo por exigência da Fifa, que requer até mais camarotes. “O Maracanã vai ficar menor, mas mais confortável e seguro também”, diz a secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer do Rio, Márcia Lins, referindo-se ao acesso e ao tempo de evacuação, que deve chegar a sete minutos e meio.

A reforma levará mais tempo do que a construção em si: 27 contra 22 meses. Quem não quer ver o Maracanã parecido com estádios modernosos que proliferam mundo afora reclama das obras. O professor universitário americano Chris Gaffney, morador do Rio há 15 meses e um dos idealizadores da recém-fundada Associação Nacional dos Torcedores, critica: “O estádio é um patrimônio cultural não só do Brasil como do mundo todo. Eu cresci ouvindo falar do Maracanã. Estão fazendo essa reforma a mando da Fifa, com dinheiro público, sem consultar a opinião dos torcedores, reduzindo o acesso do povo aos jogos”. São polêmicas que só um gigante desperta.

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