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Um país presidido de dentro de uma barraca de campanha nos jardins do palácio de governo em ruínas. Esse é o cenário que o futuro presidente do Haiti vai encontrar num país devastado pelo terremoto.
Orgulho dos haitianos e símbolo da independência do primeiro Estado negro, o Palácio Nacional inaugurado em 1921 foi parcialmente destruído pelo terremoto de 12 de janeiro, que deixou cerca de 250.000 mortos.
Em abril, os tratores começaram lentamente sua demolição. Os serviços da presidência foram realojados em instalações pré-fabricadas ou em barracas de campanha. Além do Palácio Presidencial, a Suprema Corte, a Assembleia Nacional e 90% dos ministérios ficaram destruídos.
É difícil nessas condições reconstruir o país mais pobre das Américas, apesar dos bilhões de dólares prometidos pela comunidade internacional, cuja presença mais visível, a dos Capacetes Azuis da ONU, é cada vez mais mal vista: uma parte da população os acusa de ter introduzido a cólera no país.
Mesmos os funcionários de governo tiveram que pagar um pesado tributo depois do terremoto. "Houve muitas mortes. Em um bom número de casos, não houve contratações para substituir essas pessoas", admitiu o ministro encarregado das relações com o Parlamento, Joseph Jasmin.
"Tivemos que passar sem esses funcionários. Alguns deles ocupavam funções estratégicas e não se pode encontrar substitutos. O Estado preferiu fechar esses postos e fazer funcionar o aparelho administrativo apoiando-se nas capacidades com que conta", precisou Jasmin. Enquanto isso, a reconstrução do país está atrasada.
"O novo poder terá muitos problemas para utilizar a administração pública e colocá-la a serviço da população. A administração funciona em barracas de campanha, não conta com quadros competentes e perdeu seus expedientes e instruções", reconheceu Jasmin.
O presidente poderá apoiar-se até 15 de outubro de 2011 no estado de emergência que aumenta os poderes do executivo em termos de reconstrução, de pedidos e de aprovação de contratos sem convocar licitações.
Pelo lado econômico, o PIB deverá cair 8,5% em 2010, neste país onde 30% da população está oficialmente desempregada, segundo dados do Banco Mundial. O custo econômico do terremoto (destruição, detenção da produção, desemprego) representa 119% do PIB, de acordo com esse organismo. A única nota positiva: o crescimento deverá aumentar em 9,8% em 2011 e 8,4% em 2012 graças à reconstrução, assinala o Banco Mundial.
Mil e trezentas escolas foram destruídas pelo terremoto e 58% dos cerca de 9.000 presos aproveitaram para escapar das prisões. Aqueles que foram capturados se encontram em condições carcerárias indignas. Dos 5.601 detidos contabilizados em 25 de outubro de 2010, 4.217 se encontram em prisão preventiva, alguns há cinco ou seis anos, denunciou a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.
Neste país, que se encontra no 146º lugar num total de 178 em termos de corrupção, segundo a organização Transparency International, o novo presidente terá pelo menos uma boa notícia que não resolve muita coisa: a França devolverá dois quadros do Palácio Nacional que foram danificados pelo terremoto e que especialistas franceses estão restaurando.

Os favoritos

De acordo com as pesquisas, dos 18 candidatos que disputam o pleito, seis contam com chances de suceder o atual governante, René Preval, a partir de 7 de fevereiro.

– Jude Célestin, protegida do atual presidente.
Sem experiência política aos 48 anos de idade, esta engenheira de formação é uma das mais jovens candidatas à presidência do partido Inité (Unidade). Formada em engenharia mecânica na Suíça, fez uma bem sucedida campanha, que cobriu o país com os cartazes verdes e amarelos do partido. Considerada favorita, era desconhecida do grande público até se candidatar. Sua proximidade com o presidente Preval colaborou para sua escolha como candidata. Célestin comanda o Centro Nacional de Equipamentos, responsável pelas principais obras públicas do Haiti.

– Mirlande Manigat: ex-primeira-dama apoiada pelas mulheres.
Apontada por algumas pesquisas como líder da corrida eleitoral, Mirlande Manigat, de 70 anos, foi primeira-dama do Haiti durante alguns meses de 1988, quando o marido Leslie Manigat chegou ao poder (acabou derrubado por um golpe militar pouco depois de assumir). Formada em Ciência Política na Sorbonne, esta professora universitária concorre pela Aliança dos Democratas Nacionais Progressistas (RNDP), mas conta com pouca experiência política, que se resume ao cargo legislativo que ocupou durante a presidência do marido. Conta com o apoio de um grupo de parlamentares de oposição a Preval e goza da simpatia das organizações feministas, que gostariam de ver uma mulher eleita presidente pela primeira vez no Haiti.

– Michel Martelly, cantor popular admirado pela juventude.
Aos 49 anos, este cantor é mais conhecido pelo apelido de "Swett Micky". Notório pelos excessos no palco, autoproclamou-se presidente do "compas" (música dançante típica do Haiti). Após 20 anos de carreira, Martelly parece ter tomado o lugar deixado na política pelo rapper Wyclef Jean, excluído da disputa presidencial pelo Conselho Eleitoral. Impulsionado por sua popularidade entre os jovens, o cantor faz uma campanha agressiva, acusando seus principais adversários de contribuir para a ruína do país. Martelly diz ter chegado a hora de uma nova geração assumir o poder. As pesquisas o colocam entre os três principais candidatos.

– Jacques-Edouard Alexis: a velha guarda dissidente do clã presidencial.
Aos 63 anos, este universitário foi ministro e primeiro-ministro de Preval. Fiel ao presidente, foi responsável pela campanha presidencial vitoriosa de 2006. Alexis foi demitido por Preval em abril de 2008, depois de uma série de greves de fome que abalaram o país. Candidato natural do partido no poder, foi descartado na reta final para a entrada de Jude Célestin, que representa a nova guarda do clã presidencial.

– Charles-Henri Baker: o industrial que se apresenta como alternativa a Preval.
Aos 55 anos de idade, este homem enérgico está à frente do partido Respé (Respeito), e afirma ser "o único candidato verdadeiramente anti-Preval". O industrial, que ficou em terceiro lugar nas últimas eleições presidenciais, em 2006, foi dono da maior plantação de tabaco do país nos anos 80, e ocupou a vice-presidência da Associação de Indústrias do Haiti. Formado em administração de negócios nos Estados Unidos, é um apaixonado por futebol e caratê.

– Jean-Henry Céant: o "unificador" das correntes políticas.
Formado em direito pela Universidade Pública do Haiti, Céant, de 54 anos, é um conhecido escrivão que se apresenta como o "unificador", sob a bandeira do partido Renmen Ayiti (Amar o Haiti). Sem experiência política, Céant conduziu sua campanha eleitoral apoiado por uma aliança de ex-seguidores de Duvalier e de partidários do ex-presidente Jean Aristide. Seu slogan é "Tout mounn ladan’l" (Todo mundo está incluído).