Para evitar qualquer tipo de
frustração, se faz necessária
uma advertência a quem vai ver
A feiticeira (Bewitched, Estados
Unidos, 2005), em cartaz nacional na sexta-feira 30. O longa dirigido por Nora
Ephron não é a versão cinematográfica do seriado televisivo da década de 60. Nicole Kidman encarna a protagonista, mas não é a sapeca bruxinha Samantha, papel imortalizado por Elizabeth Montgomery na tevê. Na trama, a ex de Tom Cruise é Isabel, atriz de primeira viagem escalada para interpretar Samantha num remake da série. No entanto, Isabel é uma bruxa de verdade e, tal qual sua personagem, sonha encontrar um grande amor e levar uma vida normal, livre das mágicas. A razão do seu afeto é Jack (Will Ferrell), o ator canastrão que interpreta Darrin, marido-abobalhado de Samantha, que originalmente foi feito por Dick York. Uma história dentro de outra, enfim.

Esse é o ponto alto do filme: as várias referências ao enlatado cult, incluindo passagens de alguns episódios. Numa das boas sacadas, Jack reclama que o papel de Darrin era tão apagado a ponto de Dick York ser substituído por Dick Sargent e ninguém notar. Nicole Kidman conseguiu a façanha de imitar o famoso movimento de nariz que Elizabeth Montgomery exibia ao executar alguma magia. Isabel é tão cativante quanto Samantha. E está bem acompanhada por Michael Caine (como o bruxo-galanteador Nigel, seu pai) e Shirley Maclaine (no papel de Iris, atriz escalada para fazer Endora, a mãe de Samantha, que vive a atormentar o genro). Will Ferrell está correto, mas exagera nas macaquices e nos trejeitos que fazem sucesso nos esquetes do programa de humor Saturday night live, receita fácil que não funciona no cinema. Prova disso é sua atuação mais contida em Melinda e Melinda, de Woody Allen.

Durante todo o filme paira um sentimento nostálgico do seriado, cujos 36 primeiros episódios acabam de sair em DVD. Quem deseja matar a saudade do original vai, portanto, se decepcionar e sentir falta de personagens como a bisbilhoteira senhora Krawitz e a pequena Tabatha. Nora Ephron afirma que não optou pelo remake por achar que o humor de A feiticeira (o da tevê) era datado. Pode até ser. Mas que
fazia rir, isso lá fazia.