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Conhecido pelo bestseller “A Arte de Viajar”, o escritor suíço Alain de Botton se debruçou em um projeto que é, de certa forma, o seu inverso. O livro que ele acaba de lançar, “Uma Semana no Aeroporto” (Rocco), não avança além das fronteiras do gigantesco Aeroporto de Heatrow, na Inglaterra. Ali ele passou voluntariamente sete dias como “escritor residente” contratado por uma grande operadora de aeroportos. Botton narra histórias reais e cotidianas observadas na curiosa – e nada tediosa – rotina do terminal número cinco.

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Leia um trecho do livro :

Embora a pontualidade seja a alma do que compreendemos tipicamente como uma boa viagem, eu já torci muitas vezes para que meu avião se atrasasse: assim eu seria obrigado a passar mais um tempinho no aeroporto. Raramente falei desse desejo para outras pessoas, mas lá no fundo ansiava por um vazamento hidráulico no trem de pouso, uma tempestade no Golfo de Biscaia, uma cortina de névoa em Malpensa ou uma greve repentina na torre de controle de Málaga (famosa no ramo tanto por suas tensas relações trabalhistas quanto por seu imparcial controle de boa parte do espaço aéreo do Mediterrâneo ocidental). Uma vez cheguei a desejar um atraso que fosse grande o suficiente para que me oferecessem um vale para refeições ou ainda, mais intensamente, uma noite paga pela companhia aérea em uma daquelas gigantescas caixas de lenços de papel feitas de concreto com janelas hermeticamente fechadas, corredores decorados com nostálgicas imagens de aviões a hélice e travesseiros de espuma aromatizados com um leve cheiro de querosene.


No verão de 2009, recebi um telefonema de um homem que trabalhava para uma empresa proprietária de aeroportos. Ela era dona dos aeroportos de Southampton, Aberdeen, Heathrow e Nápoles, e supervisionava as operações de varejo do Boston Logan e do Pittsburgh International. Além disso, a empresa controla boa parte da infraestrutura industrial que sustenta a civilização européia (embora individualmente seja raro nos demorarmos em tais pensamentos enquanto usamos o banheiro em Bialystok ou dirigimos o carro alugado para Cádiz): a companhia de resíduos Cespa, a construtora polonesa Budimex e a espanhola Autopista, que atua na infraestrutura de estradas pedagiadas.


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