Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, mulheres belas e dúbias, traição, vingança – esse filme já foi feito e com enredo bem mais interessante em títulos clássicos de Hollywood sobre o crime organizado. Seis deles ganharam o formato digital na coleção Gângsteres (Warner), que chega às lojas em duas caixas. O volume 1 traz Alma no lodo (1931), de Mervin Le Roy; O inimigo público nº1 (1931), de William Wellman; e A floresta petrificada (1936), de Archie Mayo. Na caixa 2 foram reunidos três títulos com James Cagney, também presente em O inimigo, sempre na pele de bandidos de sangue quente e alma gélida – Anjos de cara suja (1938), de Michael Curtiz; Heróis esquecidos (1939); e Fúria sanguinária (1949), ambos de Raoul Walsh.

Sempre se diz que os momentos de crise geram ótimos filmes. A afirmação não poderia ser mais bem aplicada que aos anos 30 e 40 americanos, quando uma produção de viés mais social tentou entender as raízes do crime que começava a grassar nas grandes cidades. Era o tempo da lei seca e dos speakeasy, bares onde a bebida corria solta e o melhor jazz animava a noitada. Ou seja: uma festa, só que comandada por uma corja que resolvia tudo na base da bala. Mas, como Hollywood ainda não estava contaminada pelo fetiche da violência, o resultado são ótimos dramas que às vezes beiram à tragédia. Caso de Alma no lodo, que mostra a ascensão e a queda de Rico (Edward G. Robinson). Melhor ainda são os dois títulos que Walsh fez com Cagney. Veja o final de Heróis esquecidos, com o seu decadente chefão alvejado na rua coberta de neve, um desfecho antológico. Ou os brilhantes diálogos (muitas vezes machistas) de Fúria sanguinária, em que Cagney encarna um gângster edipiano que faz de gato e sapato a falsa amante (Virginia Mayo). Ao sugerir que ficaria linda num casaco de vison, ele devolve a delicadeza: você fica ótima até com uma cortina de banheiro.