“Não temos um ponto G, mas dois, um em cada lateral da cabeça”, declarou recentemente a escritora Isabel Allende. A frase, proferida em tom de brincadeira durante entrevista a uma revista masculina, é provavelmente uma das melhores definições já publicadas sobre a excitação feminina. Isso porque, ao contrário dos homens, as mulheres se excitam muito mais com os ouvidos do que com os olhos. Preferem palavras calientes a imagens eróticas. Ao pé do ouvido, gostam de sussurros, elogios e até – por que não? – de baixarias. De olho nessa particularidade feminina, alguns canais da tevê a cabo brasileira começam a investir em programas eróticos dirigidos exclusivamente às mulheres.

No sábado 24, estréia na GNT a série Bliss. Com o primeiro episódio de nome, no mínimo, instigante (Louvor à bebedeira e à fornicação), a produção canadense tem potencial para se tornar uma febre à la Sex and the city, só que muito, muito mais quente. O primeiro programa – serão ao todo 24 episódios de 30 minutos – começa com os quarentões Alice e Bob recebendo alguns amigos para jantar. E termina com uma troca de casais bastante excitante. Nada de orgias ou imagens grotescas. Pelo contrário. O realismo é um dos fatores mais excitantes. Depois de muitas garrafas de vinho, Bob acaba indo dormir e Alice, embriagada, se atraca com um dos convidados (Jack), cuja esposa também já havia se recostado em algum canto da casa. No meio da transa, Alice e Jack são flagrados pelos respectivos. E a essa altura a libido da telespectadora provavelmente já estará tilintando.

Diferenças – Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, diretora do Projeto Sexualidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, as mulheres preferem filmes eróticos com enredo e romantismo a cenas puramente pornográficas. “O homem se excita muito com o que vê. Só de pensar no corpo de uma mulher pode ter ereção. A mulher não; ela gosta e precisa do clima, do entorno”, diz. Além dos motivos culturais, essas diferenças têm relação com a biologia de ambos os sexos. “A testosterona, hormônio masculino responsável pelo tesão tanto no homem quanto na mulher, é bastante visual. Já o estrógeno, hormônio feminino, é gregário e sutil”, completa a especialista. Outra prova de que os hormônios pautam as diferenças entre homens e mulheres está num dos maiores estudos já publicados sobre o tema. Em Sex diferences in sexual fantasy, os psicólogos evolucionistas Donald Symons e Bruce Ellis, da Universidade da Califórnia, atestam que mulheres com níveis mais altos de testosterona são mais interessadas em pornografia explícita.

De um jeito ou de outro, a receita ideal para atrair o público feminino para a indústria pornográfica parece ser uma boa mescla de romantismo e sensualidade, com algumas pitadas de erotismo. Cenas de sexo explícito não são fundamentais, como mostra a série Bliss, da GNT, mas cativam. Prova disso é o recém-inaugurado Play Girl, canal pay per view disponível para os assinantes da Sky. Há menos de três meses no ar, e com cenas poderosas de sexo explícito, a atração tem procura crescente. “Entre julho e agosto registramos aumento de 50% no serviço”, diz o diretor de programação da Sky, Ricardo Rihan. A emissora se recusa a divulgar números de audiência no Brasil. Mas nos Estados Unidos a estimativa é de que mais de um milhão de casas usem o serviço, esporádica ou regularmente.

Dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual também levam a crer que essa fatia de mercado é promissora. Segundo Evaldo Shiroma, presidente da organização, mais da metade dos artigos eróticos à
venda no País é consumida por mulheres. “Em 1997, o público feminino era responsável por apenas 5% do consumo de produtos eróticos. Hoje, as mulheres representam de 70% a 80% dos consumidores”, diz Shiroma. Na opinião do empresário, quem investir na libido feminina se dará bem. “Elas sabem do que gostam. E gostam muito…”