Como num filme de James Bond, invenções para a proteção dos endinheirados proliferam no Brasil. Diferentemente do cinema, elas protegem de balas de verdade e custam um dinheirão. Os números são do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e demonstram como a violência nas principais cidades brasileiras – além de todas as suas conseqüências óbvias – se tornou uma praga que consome recursos preciosos. Quinhentas das principais empresas instaladas no País gastam quatro vezes mais para proteger seu patrimônio e seus executivos do que investem em ações sociais. O exemplo desta gastança pode ser observado na comparação entre o que acontece com uma grande montadora americana em seu País e no Brasil. A empresa fatura nos Estados Unidos US$ 185 bilhões por ano, produz nove milhões de veículos e emprega 386 mil funcionários.

A mesma marca no Brasil fatura muito menos, US$ 4,5 bilhões por ano, produz 332 mil carros e emprega 22 mil funcionários. Os números brasileiros, obviamente mais modestos do que os americanos, só superam a matriz em um quesito: o gasto com segurança empresarial. Enquanto nos Estados Unidos o gasto é de US$ 330 mil, por aqui é de US$ 836 mil. Trata-se afinal de um país que usa 11% do seu PIB (Produto Interno Bruto) no combate à violência. Segundo o ranking da ONU (Organização das Nações Unidas), capitais como Rio de Janeiro e São Paulo estão no nível 5 de riscos, numa escala de 1 a 7, ao lado de Cali e Medellín na Colômbia. Acompanhe a seguir como anda a busca pela segurança perfeita.

Chipado – A personagem Sol, vivida pela atriz Débora Secco na novela América, foi localizada pela polícia americana através de um chip subcutâneo, aplicado nela em um projeto voluntário do governo americano. A tecnologia, embora em fase de teste, não é coisa só de novela. No Brasil, 42 famílias já usam o “acessório”. Instalado no braço por meio de uma pequena cirurgia, o chip pacífico serve como forma de rastreamento e localização via rádio e satélite. Como ainda não há no País uma legislação de controle do produto, que é pouco maior que um grão de arroz, as famílias brasileiras, todas paulistanas, fizeram a implantação nos Estados Unidos. O custo é de US$ 10 mil, mais uma mensalidade que varia de US$ 200 a US$ 800.

Quartos do pânico – Só em São Paulo, 15 mil residências possuem portas blindadas e as construtoras de luxo já constroem apartamentos com essas portas, que na loja Mul-t-lock, em São Paulo, custam R$ 5 mil em média. No Rio de Janeiro, onde o índice de balas perdidas é muito grande, são 15 mil janelas blindadas, que custam R$ 6 mil e são fabricadas em Israel. Hoje, gasta-se de 8% a 10% do valor da obra de uma casa em segurança e pouco menos em um apartamento de alto luxo. Em casos mais extremos, existem os quartos do pânico. Nome popular para um quarto blindado com linha telefônica própria e monitoração da casa. Já são cerca de 500 construídos no Brasil, 400 só no Estado de São Paulo. O preço do metro quadrado é de R$ 3 mil. Basicamente, são utilizados para abrigar as vítimas de invasões até a polícia chegar.

Entre as opções de blindagem arquitetônica, a mais cara, mais segura, porém, na maioria das vezes, desnecessária são os bunkers. Cento e duas famílias no Brasil – 63 delas só em São Paulo e a maioria no bairro do Morumbi – optaram pelo sistema. Os bunkers são habitáculos de alta segurança construídos no subsolo da casa, até três metros abaixo da superfície. Surgiram durante a Segunda Guerra. “Apenas 20% dos bunkers brasileiros são realmente necessários. Quando a família é extremamente visada, rica e com casa afastada e de difícil acesso para a polícia, a opção é válida. No restante, bastaria um quarto blindado”, explica Ricardo Chilelli, diretor da RCI Consultoria de Segurança Internacional. A empresa, que tem como clientes 55 das 100 famílias mais ricas do Brasil faz uma análise do risco do cliente. “Na maioria das vezes, um quarto blindado seria suficiente, porque a polícia não demora mais de meia hora para chegar ao local.” Construído com concreto especial e revestido com aço balístico, o bunker possui caixa-d’água independente, abastecimento de gás, linha telefônica e interfone próprios, internet, monitoração interna e externa da casa, alimentação desidratada e, em alguns casos, até decoração de luxo. “Dá para passar até um mês lá dentro”, segundo Chilelli. O preço? De US$ 50 mil até US$ 1 milhão.

Seguranças com etiqueta – São poucos os profissionais que podem ser classificados como seguranças VIPs. Provenientes de forças armadas especiais, o segurança fatura em média R$ 8 mil por mês. Ele tem no mínimo 30 anos, é faixa preta em pelo menos duas lutas marciais, tem nível superior, curso de primeiros-socorros e de etiqueta e elevada capacidade de identificar, enfrentar e imobilizar agressores em questão de segundos.

Coletes fashion – Foi-se o tempo que coletes à prova de bala eram a única solução para se proteger de tiros. Hoje, roupas de todos os tipos são fabricadas com esse propósito. Em São Paulo, a Jenad Security, empresa nacional associada a uma empresa israelense, fabrica, além do colete ostensivo – aquele usado pelas forças policiais – também o dissimulado, ou seja, disfarçado de roupa comum. Uma jaqueta de couro à prova de bala dessa linha pesa dois quilos e não sai por menos de R$ 3,5 mil.

Reconhecimento facial – Em 2000, São Paulo possuía cerca de 130 mil câmeras, em bancos, centros comerciais, edifícios residenciais, elevadores, garagens, áreas de lazer, supermercados e transportes públicos. Em cinco anos, esse número saltou para 700 mil. Um paulistano, em sua rotina normal, é filmado, em média, 20 vezes por dia. No Brasil, os quarteirões mais filmados estão em São Paulo, no bairro de Higienópolis, seguido pela Vila Olímpia. Lugares onde a monitoração resultou em uma queda de 40% no índice de violência. O setor de segurança eletrônica é o que sofreu os maiores avanços. Sensores infravermelhos detectam a presença de pessoas por movimento e calor do corpo. Sensores sísmicos são usados em portas e janelas e disparam a qualquer movimento mais brusco. Cabos de áudio e freqüência registram qualquer alteração de som no ambiente. A chave eletrônica protege não só de ladrões, mas de pessoas supostamente confiáveis. Uma empregada doméstica, por exemplo, tem sua chave regulada para certos horários. Depois, sua entrada é bloqueada. Uma das maiores novidades são as fechaduras com controlador de reconhecimento facial. O aparelho capta 1.280 pontos da face, é imune a disfarces e pode reconhecer até dez mil rostos selecionados. Ou seja, é impossível que alguém desconhecido do sistema entre no local protegido.

Nos carros – A blindagem de carros existe no Brasil há 12 anos. A G5, uma das maiores empresas do setor no País, blinda 280 automóveis por ano. O serviço é caro. Para se ter uma idéia, a blindagem de um Audi A3, que custa em média R$ 70 mil, não sai por menos de R$ 65 mil. As últimas técnicas em blindagem também protegem pontos como pneus, fechaduras e retrovisores.