Fechadas as urnas no domingo
18 de setembro, os eleitores
alemães surpreenderam os
institutos de pesquisa e presentearam os políticos do país com um enorme
quebra-cabeça, que poderá levar semanas para ser montado: qual coalizão de partidos conseguirá fomar uma maioria estável no futuro Parlamento e governar o país nos próximos quatro anos?

Apesar de se manterem como as maiores agremiações da Alemanha, tanto o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler (primeiro-ministro) Gerhard Schröder, quanto a União Democrata Cristã/União Socil Cristã (CDU/CSU), liderada por Angela Merkel, caíram na preferência do eleitorado. Ambos saíram do pleito praticamente empatados, com uma pequena vantagem dos democrata-cristãos.

O impasse poderia ser resolvido com uma grande coalizão entre os dois partidos sob a liderança de Merkel, já que a CDU foi a mais votada, mesmo que de forma apertada. Em vários pontos de seus programas, como na política financeira e na segurança interna, os dois partidos mostram até certa proximidade. Mas diante da grande perda de votos da União e do crescimento do SPD na reta final da campanha, Schröder afirmou não reconhecer a vitória de Merkel. Conhecido por seu apego ao poder, ele simplesmente ignorou seu segundo lugar e reivindicou a chancelaria: “Só aceitamos uma grande coalizão sob a minha liderança e a do SPD.” Para complicar a situação, devido à morte repentina de uma candidata a deputada, a cidade de Dresden, no leste do país, votará só no dia 2 de outubro. Se tiver ali uma boa votação, o SPD poderá se aproximar ainda mais da CDU.

Por enquanto, a única conclusão que se pode tirar dos resultados é que a coalizão rubro-verde, formada pelo SPD de Schröder e os Verdes e que governa o país há sete anos, ganhou o cartão vermelho dos eleitores. Schröder vinha há meses perdendo o apoio dos alemães, insatisfeitos sobretudo com o aumento do desemprego. Vendo suas reformas serem bloqueadas pela oposição e perdendo sucessivamente para a CDU em pleitos estaduais, o chanceler decidiu, em maio passado, antecipar as eleições parlamentares para este ano.

Apesar da surpreendente recuperação dos social-democratas no final da campanha, ela não foi suficiente para dar ao SPD e aos Verdes a maioria das cadeiras do Bundestag (Câmara Baixa). Para se manter chanceler, então, Schröder precisaria do apoio de uma terceira agremiação. Os liberais do FDP (de cor amarela) vêm descartando qualquer participação numa chamada “coalizão semáforo”, ou seja, com os social-democratas e os Verdes. “Um dos nossos objetivos era justamente derrubar o governo rubro-verde”, afirma Guido Westerwelle, chefe dos liberais. Também improvável é uma aliança de Schröder com o novo partido “A Esquerda”, criado por ex-comunistas da antiga Alemanha Oriental e dissidentes do SPD. Um dos líderes da nova agremiação é Oscar Lafontaine, ex-ministro das Finanças de Schröder, um dos maiores desafetos do atual chanceler.

Impasse – Há anos a Alemanha vive uma estagnação econômica. O consumo está parado e o número de desempregados aumentando (quase cinco milhões). Há
três anos, o país apresenta um déficit público superior a 3% do PIB, descumprindo
o rígido Pacto de Estabilidade que zela pela economia da Europa. Os alemães até reconhecem a necessidade de reformas, como indicam vários levantamentos. A dúvida é qual linha de reformas prevaleceria numa grande coalizão: a mais liberal
da CDU/CSU, com cortes ainda maiores no Estado social, ou uma mais amena, como prega o SPD.