Ele era tido como um dos maiores símbolos da luta pela justiça para as vítimas do Holocausto, o extermínio de seis milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O mais famoso caçador de nazistas do mundo, o ucraniano Simon Wiesenthal, morreu placidamente aos 96 anos enquanto dormia na terça-feira 20 em Viena, capital da Áustria. Sobrevivente de campos de concentração do III Reich, nos quais ele passou quatro anos, Wiesenthal dedicou o resto de sua vida à perseguição implacável de criminosos de guerra nazistas foragidos. À rede mundial de investigações criada por ele, o Centro Simon Wiesenthal, foi atribuído o levantamento de dados que permitiram a captura de nada menos que 1.100 criminosos, entre eles Adolf Eichmann – o executor da “solução final” – e Franz Stangl, comandante dos campos de extermínio de Treblinka e Sobibor, na Polônia, preso no Brasil em 1967 e extraditado para a Alemanha. Wiesenthal tinha, no entanto, duas grandes frustrações: não ter conseguido capturar o chefe da Gestapo (polícia política nazista), Heinrich Müller, e o médico Joseph Mengele; este último morreu em 1979, incógnito, no Brasil.

Mas Wiesenthal estava longe de ser um mito inatacável. Mesmo na comunidade judaica, certos líderes o consideravam arrogante e presunçoso. O ex-premiê austríaco, o socialista Bruno Kreisky (1911-1990), que tinha ascendência judaica, o acusava de ter colaborado com a Gestapo quando era interno do campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, além de ser “movido pelo ódio”. “Posso perdoá-los pelo que me fizeram, mas não pelo que fizeram a outros milhões”, dizia Wiesenthal sobre os carrascos nazistas. Até a versão de que as informações do Centro levaram o Mossad (serviço secreto israelense) à captura de Adolf Eichmann em Buenos Aires, em 1960, foram contestadas. “Todas as informações fornecidas por ele antes da operação foram completamente inúteis”, escreveu Isser Harel, o chefe do Mossad que comandou pessoalmente o seqüestro de Eichmann.

De qualquer forma, Wiesenthal tornou mais difícil a impunidade para os criminosos nazistas foragidos, muitas vezes estimulada pelos antigos aliados, embrenhados na guerra fria. “Não busco vingança, mas justiça”, era seu lema.