O executivo David Zilbersztajn tem passado por momentos de turbulência desde que assumiu o Conselho de Administração da Varig, há quatro meses. À frente da companhia aérea mais querida dos brasileiros, ele tem se desdobrado para evitar que a Varig mergulhe em um vôo sem volta. Propostas de compra da empresa não têm faltado (são mais de 12, a última foi apresentada na terça-feira 20 pelo empresário Nelson Tanure). Zilbersztajn acredita que a solução para os problemas da companhia passa necessariamente pela entrada de um sócio e um aporte de pelo menos US$ 300 milhões. Na segunda-feira 12, a primeira manobra para evitar o pior aterrissou na Justiça do Rio de Janeiro: o plano de recuperação judicial da empresa. Agora, a companhia terá 180 dias para negociar com os credores (dívida de R$ 7,7 bilhões) e pôr em prática um complexo programa de reestruturação que, entre tantas medidas, prevê a demissão de funcionários e a redução do número de famílias de aviões de nove para três. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Zylbersztajn, na terça-feira 20:

ISTOÉ – A nova Lei de Recuperação Empresarial pode salvar a Varig?
David Zylbersztajn –
Com certeza. Essa lei é mais compreendida pelos investidores americanos do que pelos brasileiros. Aqui a compreensão ainda é muito limitada, há muita insegurança em relação à aplicação da lei, não temos jurisprudência.

ISTOÉ – Há prazos a cumprir?
Zylbersztajn –
Sim, temos prazos. Estamos agora no processo de renegociação com os credores. Temos até o final do ano para chegar a um acordo. A lei dá 180 dias a partir da entrada do processo de recuperação. É quase uma gincana.

ISTOÉ – Vocês tiveram a primeira reunião com os credores. Houve alguma
adesão para trocar os créditos por ações?
Zylbersztajn –
A intenção nessa primeira reunião não era de conseguir a adesão. Até porque eles podem renegociar, capitalizar ou simplesmente não participar.

ISTOÉ – De certa forma, a nova lei amarra o credor à recuperação…
Zylbersztajn –
O que é interessante nessa lei é que ela busca salvar a empresa. Isso significa manter uma atividade econômica que paga impostos, emprega pessoas e tem um papel estratégico para o País. Isso cria na empresa uma segurança maior para poder se recuperar. A empresa se recuperando, aumentam as chances de os credores receberem, mesmo que seja em um tempo mais longo.

ISTOÉ – De quanto a Varig precisa para operar normalmente?
Zylbersztajn
– Na época que negociamos com a Tap, era de US$ 300 milhões. Hoje, a nossa estimativa começa em US$ 300 milhões e pode chegar a US$ 500 milhões, dependendo do padrão que se queira dar à empresa. Pela nossa proposta, a Varig será uma companhia enxuta, com um número limitado de aviões, diferentemente do passado, quando chegou a ter 120 aviões. Vamos trabalhar com cerca de 80.

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ISTOÉ – Mas é o número que tem hoje.
Zylbersztajn –
É, mas vamos focar no mercado interno concorrencial, no Mercosul e nas rotas internacionais, inclusive no continente asiático. Se tudo correr como esperamos, vamos inaugurar uma linha nova até Munique, na Alemanha, e de lá dois vôos saindo para a China e o Japão.

ISTOÉ – Qual será a economia com essa reestruturação?
Zylbersztajn –
Em termos de custo, nosso planejamento é de US$ 130 milhões
em dois ou três anos. Incluímos nessa conta o corte de funcionários de 13% e
uma série de ações operacionais. Além de um elenco de outras 95 ações para redução de custos. Mais um número menor de medidas para gerar receita
adicional de US$ 300 milhões.

ISTOÉ – E qual vai ser o faturamento?
Zylbersztajn –
Hoje, a Varig fatura algo próximo a US$ 200 milhões por mês. No futuro, não será muito diferente disso, mas a tendência é crescente, inclusive com um aumento de margem que poderá chegar a 18%, contra os 12% atuais.

ISTOÉ – A venda da VarigLog é condição fundamental para a
continuidade da operação?
Zylbersztajn –
Se não vendermos a VarigLog, a situação se agrava. Eu não vejo
uma solução sem esse dinheiro.

ISTOÉ – A venda representará quanto no caixa da Varig?
Zylbersztajn –
Considerando que a venda é casada com uma operação de compra de recebíveis, serão US$ 103 milhões.

ISTOÉ – Isso garante fôlego financeiro por quanto tempo?
Zylbersztajn –
Por mais três ou quatro meses. Isso dará tranqüilidade para
começar a implantar o projeto de reestruturação, renegociar com os credores
e achar um investidor.

ISTOÉ – Vocês separam a Varig em nova e velha…
Zylbersztajn –
Essa operação foi modelada para criar uma unidade isolada, chamada de nova Varig, que estamos procurando descontaminar da empresa
velha. A idéia é que não haja risco ao novo investidor. Isso não significa que
vamos deixar de pagar os débitos. Pelo contrário, a empresa velha também
receberá um montante operacional. As duas empresas vão operar sob a forma
de consórcio. Em termos societários, você cria a oportunidade de trazer um novo investidor que traga fluxo de capital para a Varig atual que será abatido na dívida. Também temos a ação contra o governo, que está em fase final na Justiça. Depois de resolvido todo esse processo de pendências com credores e governo, as
duas empresas tendem a se fundir de novo.

ISTOÉ – E como fica a Fundação Ruben Berta?
Zylbersztajn –
Ela fica com uma posição minoritária. Isso é uma questão já decidida pelos conselheiros, de transferência do controle. Com quanto ela vai ficar dependerá muito da negociação com os credores e com os novos investidores.

ISTOÉ – O fato de o seu grupo ter uma coloração tucana prejudica
a relação com o governo?
Zylbersztajn –
Em primeiro lugar, nessa equipe ninguém tem militância partidária. Em segundo, se em algum momento misturássemos qualquer posição política com a gestão, estaríamos mortos em uma semana. Seria um processo de suicídio.

ISTOÉ – Logo que vocês assumiram, comentou-se que o grupo
receberia um prêmio…
Zylbersztajn –
Hoje, a única garantia que temos é o salário de conselheiro. Estamos negociando no futuro uma pequena participação do que restar para a Fundação.


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