Lula está cada vez mais lá, longe do PT que criou há 25 anos. No domingo 18, o presidente ficou vendo pela tevê o Corinthians vencer o Figueirense. Ele e o ministro Antônio Palocci resolveram não oPTar na eleição para renovar a direção petista. A ausência irritou os companheiros. “Não votei porque não votei”, disse Lula. Os dois sinalizam distância do PT, já mais crítico à política econômica. Lula prometeu ir às urnas no segundo round, dia 9: o moderado Ricardo Berzoini lutará contra esquerda e centro juntos. Raul Pont e Valter Pomar eram os mais bem votados até a sexta-feira 23.

O jornal britânico Financial Times alertou que a esquerda poderá minar o apoio
à ortodoxia econômica: “O debate aberto pode deixar os investidores nervosos.”
O ministro Jacques Wagner advertiu: “Querer que (o governo) seja melhor é
bem-vindo, mas com o reconhecimento de que a economia está dando um
show.” Tudo indica o fim do trator do Campo Majoritário no Diretório Nacional. O
fiel da balança será o centro, hoje próximo da esquerda – essa mais vitaminada. Mais importante do que o novo presidente é a composição da nova cúpula, que vai liderar o projeto da reeleição de Lula.

Acusações de fraudes na eleição, com transporte ilegal de eleitores, atrasou a apuração. Mas o quórum surpreendeu: dos 820 mil eleitores, votaram mais de 300 mil. A previsão era de só 200 mil. “Desisti de ir para o PDT. A militância é mais forte do que a cúpula e mostrou que vale a pena lutar pelo PT”, comemorou o senador Saturnino Braga (RJ). “Foi um tapa na cara dos nossos inimigos”, constatou Pomar. Referia-se ao presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que chegou a anunciar a morte dos petistas: “Nos livramos desta raça pelos próximos 30 anos.” Não foi o que mostrou a voz rouca das urnas do PT.