22/11/2010 - 11:26
Uma espera de dezessete anos terminou quando sir Paul McCartney subiu ao enorme palco montado no Estádio do Morumbi, em São Paulo, às 21h35 deste domingo (21). Os fãs paulistanos do ex-Beatle, e quem veio à cidade para o show, aguardavam ansiosos desde 1993, após a primeira passagem de Paul por São Paulo, quando ele tocou no Estádio do Pacaembu. A recepção ao músico não poderia ser mais calorosa. As canções do britânico foram cantadas em coro. "Eu queria que vocês cantassem essa música, mas você cantam todas de qualquer jeito", brincou antes de Ob-La-Di, Ob-La-Da em um dos vários momentos em que sua a voz e a do público soaram em uníssono.
Aos 67 anos, mas com a energia do garoto que fundou os Beatles com o amigo de infância John Lennon, há cinquenta anos, Paul começou quebrando tudo com o rock pesado das músicas Venus and Mars/Rock Show, da sua carreira solo e Jet, dos Wings. E os gritos aumentaram quando anunciou a terceira música, e a primeira dos Beatles, All My Loving, cantada em uníssono pelo público. Ele emendou em outro clássico da ex-banda, Drive My Car, que provocou a catarse dos fãs de todas as idades que lotaram o Morumbi.
"Boa noite Obrigado, paulistas!", disse ao público, em português, provocando mais gritos dignos do auge da "beatlemania" nos anos 60. Ao cantar My Love, dedicada a sua mulher Linda, que morreu em 1998, ele "gastou" o português. "Eu escrevi essa música para minha gatinha, Linda. Mas esta noite ela é para todos os namorados".
Neste primeiro bloco, o sorridente britânico optou por dar uma "segurada" nos hits óbvios dos Beatles e desfilou canções do Wings, que também tiveram sucesso em sua missão. A primeira sequência que já abalaria os fãs de Beatles veio com I’ve Just Seen a Face, And I Love Her – dançada por alguns casais na pista – e Blackbird, esta última tocada de forma simples, orgânica e bela pelo compositor. Por outro lado, os três telões gigantes e o sistema de iluminação posicionado ao redor de todas as arquibancadas mostravam a complexidade técnica envolvendo um espetáculo desse porte.
"É ótimo estar de volta ao Brasil, terra de música linda", falou no português tradicionalmente carregado. Paul foi prontamente respondido com mais um coro: "she loves you, yeah, yeah, yeah". Sem perder tempo, respondeu: "I love you, yeah, yeah, yeah", apontando para a plateia em êxtase.
A leve esfriada de Here Today (que foi dedicada a John Lennon), Dance Tonight e Mrs. Vanderbilt rapidamente foi contornada com Eleanor Rigby. Depois foi a vez de homenagear George Harrison, morto em 2001, com a canção Something, que ganhou uma introdução diferenciada, mas teve todos seus riffs marcantes lembrados com dignidade.
Após relembrar Band of the Run (do Wings), Back in the USSR e I’ve Got a Feeling, tudo indicava que Paul já estava "cercado" por seus hits marcantes e que a apresentação se encaminha para a reta final.
A sequência infalível de Paperback Writer e A Day in the Life foi finalizada com Give Peace a Chance, cantada em coro e com uma bonita homenagem que encheu o Morumbi de bexigas brancas.
Sentado ao piano, a progressão de acordes de Let It Be também já foi suficente para emocionar muitos. Quem não se arrepiou nesse momento levou um susto na música seguinte. Em Live and Let Die, colunas de fogo, fumaça e muitos fogos de artifício atrás do palco "incendiaram" a apresentação com um final épico. Paul aproveitou para brincar que estava surdo com quantidade de explosões.
Após esse final apoteótico, o Morumbi viu o maior coro da noite: Hey Jude. O refrão, um dos mais conhecidos dos Beatles, foi cantado a plenos pulmões e estampou sorrisos pra lá de satisfeitos. "Agora vocês vão embora? Vocês precisam dormir", brincou o baixista, que recebeu um sonoro "não" do público.
Com o primeiro bis foramdo por Day Tripper, Lady Madonna e Get Back, McCartney deixou o palco por poucos segundos, mas retornou rapidamente com uma de suas composições mais conhecidas: Yesterday. Assim como Blackbird, a canção mostra sua força na simplicidade de sua melodia e execução sem cerimônias de seu criador.
Fechando com Helter Skelter e Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band/The End, Paul McCartney encerrou sua apresentação com o mesmo setlist de Porto Alegre com quase três horas de duração.
Escorregão
Após uma apresentação impecável, Paul McCartney provou aos seus fãs que ainda é um ser humano. Depois de se despedir, jogar palhetas no público e acenar bastante, acabou escorregando na saída do palco e levou um tombo. O músico levantou-se rapidamente e gesticulou com um "ok". No público, a preocupação se resumiu em frases como "tadinho, ele é velhinho".
Teve de tudo
São raros os shows em que há uma integração entre um repertório completo e bem montado, efeitos visuais, execução ao vivo e claro, carisma. Vale lembrar que tudo isso sem uma resposta positiva do público não vale nada. Neste domingo, o público paulista não fez feio e correspondeu ao espetáculo.
Confira o setlist completo:
Venus And Mars/Rock Show
Jet
All My Loving
Letting Go
Drive My Car
Highway
Let Me Roll It/Foxy Lady
The Long and Winding Road
1985
Let ‘Em In
My Love
I’ve Just Seen a Face
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Dance Tonight
Mrs Vanderbilt
Eleanor Rigby
Something
Sing The Changes
Band On The Run
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Back In The USSR
I’ve Got a Feeling
Paperback Writer
A Day in the Life/Give Peace A Chance
Let It Be
Live And Let Die
Hey Jude
Bis 1
Day Tripper
Lady Madonna
Get Back
Bis 2
Yesterday
Helter Skelter
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band/The End