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BEBIDAS
Fábrica da Ambev: 3,9 litros d’água são usados para produzir um litro de cerveja

 

A Ambev, uma das maiores fabricantes de bebidas do mundo, utilizava, até 2004, 4,7 litros de água para fazer um litro de cerveja. Hoje, o número foi reduzido para 3,9. Esse aumento de eficiência não é apenas ambientalmente correto, e sim uma mudança estratégica. A escassez do recurso natural, as enchentes e o aumento do seu preço compõem um cenário cada vez mais preocupante para algumas das mais importantes empresas da Terra.

Uma pesquisa revela que uma em cada cinco das grandes companhias consumidoras de água sofre com esses problemas. O estudo foi realizado pela organização sem fins lucrativos CDP e patrocinado por 137 investidores que detêm US$ 16 trilhões em ativos.

Um questionário foi enviado a 302 empresas de 25 países, seis delas brasileiras. Destas, apenas a indústria de bebidas Ambev, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Petrobras responderam. Vale, OGX e Eletrobras optaram por não participar. Batizado de CDP Water Disclosure 2010, o trabalho constatou que 39% das companhias entrevistadas já vivenciaram impactos negativos relacionados à água. Ao responder a outra questão, metade delas afirmou que os perigos ao negócio já ocorrem ou acontecerão em curto prazo – num período de um a cinco anos. Os setores mais ameaçados são o de alimentos, bebidas e tabaco e o de siderurgia e mineração (leia quadro). Embora seja o primeiro estudo da CDP sobre o assunto, a organização realiza desde 2000 um influente relatório sobre emissões de carbono das maiores empresas do mundo.

“A adesão de 150 empresas (50%) nesta primeira edição é significativa”, diz Simone Oliveira Vahran, diretora de relações públicas do CDP para o Brasil e América Latina. “As brasileiras estão ansiosas pela pesquisa nacional, que deve sair em 2012.” Uma amostra dessa ansiedade são as companhias que responderam voluntariamente ao estudo, mesmo sem terem sido solicitadas. Foram 25 no mundo, incluindo a Natura.
“Temos uma preocupação especial com a preservação da água, já que ela responde por 95% da composição da cerveja”, diz Sandro Bassili, diretor de relações socioambientais da Ambev. A redução da quantidade de matéria-prima vai continuar. “Neste ano, estabelecemos a meta de consumir 3,5 litros de água para cada litro da bebida até 2012.”

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SIDERURGIA
O setor é um dos mais afetados por problemas relacionados
à água, essencial em empresas como a CSN

Um estudo encomendado no ano passado por empresas como a Nestlé e a cervejeira SAB Miller calculou que a demanda global vai superar a oferta em 40% daqui a 20 anos. Os pesquisadores, porém, avisam que existem formas de gestão e tecnologias capazes de aumentar a eficiência no uso e superar o problema. “É ne­cessário criar mecanismos de resiliência e evitar danos catastróficos”, disse o chefe da pesquisa do CDP, Marcus Norton, ao jornal inglês “The Guardian”. “Se a água se esgota, uma empresa não pode operar. Além disso, vimos como as enchentes na China e no Paquistão causaram centenas de bilhões de dólares em prejuízos.” Mas incidentes como esses se transformaram também em oportunidades. Sistemas de contenção de catástrofes naturais são alguns dos negócios que 62% dos pesquisados identificaram como promissores. Eles citam ainda produtos químicos para tratamento de água e infraestrutura para a distribuição do recurso. É a sede por lucros trazendo benefícios.

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