Segundo semestre, boletins em
baixa. Se o desempenho na escola
vai mal, a hora é esta. É a última chamada para quem não quer levar bomba no final do ano. Ainda há tempo de correr atrás do prejuízo. Porém, avisam os especialistas, as críticas e castigos não são os melhores meios de estimular crianças e adolescentes, quietinhos ou espevitados, a superar dificuldades. Estudar é tarefa deles, mas nem sempre a garotada tem autonomia para se organizar para os estudos ou reconhecer que os papos na internet e as baladas são “da hora”, mas é preciso manter uma escala de prioridades. Às vezes, a própria rotina da casa ou os cursos extras atrapalham. Os pais podem dar uma mãozinha, analisando as causas do fracasso momentâneo. “O natural da criança e do adolescente é ter curiosidade e vontade de aprender. Eles são atraídos por novidades. Se há impedimentos, não cabe aos pais fazer diagnósticos, mas eles podem criar um ambiente propício aos estudos”, informa Neide de Aquino Noffs, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.

Se acompanhar as aulas se tornou um grande sacrifício, apure o olhar. “A criança que não aprende emite sinais, como preguiça, desatenção, cansaço exagerado”, observa Neide. Caso o comportamento seja comum também na escola, o primeiro passo é descartar possíveis deficiências orgânicas, como falta de visão, alterações na audição, distúrbios hormonais. Ir mal na escola não é necessariamente sintoma de entraves mais sérios de aprendizagem, como dislexia ou déficit de atenção. Uma consulta médica tirará as dúvidas.

Recuperação – A ação seguinte é analisar a escola. Como ela estimula a aprendizagem? Seu estilo – tradicional, alternativo ou de vanguarda – pode não ser o ideal para a criança. O aluno tem que gostar da escola. Isso influiu muito para que Vitória Dowsley, nove anos, tivesse uma recuperação notável nos estudos. Depois de passar por três escolas, Vitória chegou à terceira série com grande desvantagem em relação a seus colegas. Este ano, uma junção de esforços entre a família e o Colégio Santa Maria, de São Paulo, fez sua auto-estima subir. “A atenção da escola foi essencial. Recorremos a um professor particular e nos mobilizamos em casa. Ela voltou a se motivar ao ver seu próprio progresso”, conta Flávia, mãe da menina. “Antes, eu nem queria ir à escola. Agora, estou me sentindo bem melhor”, diz a orgulhosa Vitória.

Os laços que se criam com os mestres são fundamentais em qualquer fase. Uma má palavra pode levar uma criança a rejeitar um professor, e os estudos. Para os adolescentes, uma fala autoritária é provocação pura. “É bom saber se a escola e a família são da mesma tribo, se têm afinidades. Os professores têm que ser firmes, mas afetivos”, aponta Raquel Caruso. O tipo de emoção que a escola desperta é muito significativo. É lá que a criançada exercita a relação com o mundo dos estranhos, que tem de conviver com as diferenças e isso nem sempre acontece sem conflitos. Há pouco mais de dez anos, considerava-se “coisa de criança” os apelidos, a gozação e até a intimidação. Mas detectou-se que essas humilhações e agressões, verbais ou físicas, provocam desinteresse e pavor nos alunos, ocasionando desde abandono dos estudos até depressão ou explosões de violência. A essa forma cruel de tratamento, que pode ser muito sutil, denominou-se bullying – do termo inglês bully, que quer dizer brigão, valentão, tirano.

A escola, porém, pode não estar atenta a isso. Então, novamente, apure o olhar. Se o filho anda acabrunhado, fica nervoso na hora de ir para a escola, volta para casa sem seus materiais ou com marcas pelo corpo, pode estar sendo alvo de humilhações ou discriminação. Chegar um pouquinho mais cedo à escola, sem avisar, dá a oportunidade de observar se o filho está isolado. Notar também se ele é convidado para festinhas, trabalhos, jogos e brincadeiras. Os pais não devem brigar no lugar do filho, mas podem ajudá-lo a melhorar a auto-estima, verbalizar o problema e agir em defesa própria, nem que seja para correr e avisar um funcionário sobre o que está acontecendo. Na Escola da Vila, em São Paulo, o Projeto Conviver se mostrou eficaz em estimular o respeito. As classes fazem assembléias para falar do que agrada ou desagrada na escola. “Eles escrevem o que felicitam e o que criticam e o assunto é lançado para discussão até que se ache uma solução de convivência”, explica Clice Haddad, orientadora educacional da escola.

 

Rotina – Clice lembra que a causa das notas vermelhas pode estar em outro campo de ação importantíssimo, o lar, doce lar. Ela cita três questões relacionadas à organização: a rotina da casa e dos cursos extras, a escolha de espaço e horário adequados para as lições e a orientação de estudos. “Piano, inglês, esportes; às vezes não sobra tempo para estudar. Há crianças que ficam ora com o pai, ora com a mãe. Esse meio de campo quem tem que fazer é a família”, analisa. Ter uma agenda, e usá-la, é essencial. Para as crianças e principalmente para os adolescentes, que passam horas ao telefone ou em frente ao espelho. Além de registrar provas e trabalhos, a agenda orienta estudos. Dividir a revisão das matérias em etapas evita correrias de última hora. “Se é preciso ler um livro de 100 páginas em um mês, calcula-se quanto a criança tem que ler por dia. Trabalhos e provas merecem lembretes semanais na agenda”, ensina Sandra Maria Pezeta, supervisora de estudos do Colégio Santo Américo, também de São Paulo. No Colégio Santa Maria, os pais ajudam a criança a compor um quadro de atividades, colorido e detalhado. “A visualização leva a criança a perceber o prazo que tem para fazer as coisas”, garante Tiyomi Misawa, orientadora pedagógica da escola.

Neste quadro ou na agenda devem estar previstos também o lazer e o tempo que eles levam para se arrumar e para se locomover de uma atividade a outra. São detalhes que, não previstos, funcionam como uma bola de neve na desorganização. Mais complicado, porém, é redefinir horários para tevê e internet. Giuliana Bento de Jesus, 16 anos, sabe que dedica tempo demais à telinha e ao computador, mas sente dificuldade em mudar. “Tenho preguiça de estudar”, diz. Quando ela pensa na faculdade, no entanto, a percepção muda. “Quero ser veterinária e deveria me preparar melhor para isso”, analisa. A desatenção de Giuliana com os estudos apareceu na oitava série. “Foi uma época de rebeldia. Falava muito em classe e adorava danceterias. Hoje, já está melhor”, diz a mãe, Nercinéia.

Amigos – Na adolescência, ser popular é essencial e a bagunça e as gracinhas na sala de aula “são de lei”. Que o diga Alexandre Sackiewicz, 14 anos. Ele reconhece. “Mudei de escola e estava preocupado em fazer amigos. Acabei bombando na sétima série”, conta. Em agosto, quando viu as notas baixas se acumulando, se assustou. “Estou sentando bem na frente. Já pensou se repito de novo? Vou ter que estudar com gente muito nova”, preocupa-se. Ele também abriu mão dos papos na internet. “Eu nem acesso mais, senão não resisto.” Alexandre mudou depois de um papo com os pais. “Analisei com ele a situação. Fizemos um acordo, ele cumpriu”, conta Ladislau Sackiewicz, pai de Alexandre.

De fato, a melhor solução ainda é a boa e velha conversa. É preciso convencê-los de que, se o objetivo é melhorar as notas, algo terá de ser deixado de lado, pelo menos por algum tempo. Baixar um decreto não impedirá os abusos, principalmente com os adolescentes. A dica serve para o namoro, o encontro com os amigos e as baladas. Difícil? Mas vale tentar.