Quem o viu nos últimos anos, quando ele se movimentava em fuga por alguns países latino-americanos, garante que ele retém, apesar da idade (91 anos), o mesmo olhar gélido sob as pupilas azuis. Não fosse isso, o ex-médico nazista Aribert Heim poderia ser confundido com um executivo aposentado em férias num paraíso tropical. Informações recentes, colhidas pelo Centro Simon Wiesenthal, de Jerusalém, apontam para sua possível presença no Brasil, mais precisamente em São Paulo. Enfim, capturá-lo e levá-lo a julgamento é uma questão de honra para o Centro, criado há 60 anos pelo homem que lhe deu o nome e que se transformou numa lenda dentro e fora do sombrio mundo de caçadores de nazistas.

Aos 97 anos de idade, Simon Wiesenthal sabe que sua caçada aos nazistas está chegando ao fim, tanto para ele, que foi vítima, quanto para os criminosos que persegue. Assim, o Centro decidiu lançar a Operation Last Chance (Operação Última Chance), destinada a capturar homens como Aribert, que continuam vivendo impunes em várias partes do planeta. Iniciada em julho de 2002, na Lituânia, a operação já localizou 364 criminosos nazistas em mais de dez países; destes, 79 foram levados aos tribunais. O Centro recompensa quem forneça informações que levem à captura desses nazistas remanescentes. No caso de Aribert Heim, o prêmio é de 130 mil euros (cerca de R$ 386 mil).

Nascido em 28 de junho de 1914, em Radekersburg, na Áustria, Aribert, embora menos conhecido do que seu colega Joseph Mengele – morto em 1979 em São Paulo –, não deixava de impor terror aos internos do campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Centenas de homens, mulheres e crianças pereceram
em suas experiências ensandecidas feitas em nome da “pesquisa genética”,
entre outras coisas.

Formado em medicina em 1940, Heim juntou-se às SS como voluntário. Em
junho de 1941, participava de experiências macabras com prisioneiros do
campo de Buchenwald, na Alemanha. Ele cortava as cabeças de suas vítimas
para transformá-las em adornos que punha sobre sua mesa de trabalho. No
mesmo ano, foi transferido para o campo de Mauthausen, onde Wiesenthal era
um dos prisioneiros. Em apenas dois meses, ele assassinou centenas de pessoas com injeções aplicadas no coração, sem anestesia, testando o efeito e a rapidez
letal de composições químicas em seres humanos. Heim efetuava um corte vertical ao longo do ventre de um paciente, provocando sua morte em circunstâncias inimagináveis de dor e tortura.

As últimas pistas sobre ele levam à América do Sul. Há indicações de que Heim passou pelo Uruguai, Paraguai, Argentina e, por fim, Brasil, sempre com recursos financeiros da Odessa, a organização criada depois da guerra para proteger
nazistas foragidos. Simon Wiesenthal afirma que, num mundo globalizado, não
será impossível descobrir o paradeiro de um dos mais frios assassinos que o nazismo produziu.