Demorou, mas finalmente o Comitê
de Política Monetária (Copom) do
Banco Central reduziu a taxa básica
Selic em 0,25%. A redução, que ainda deixa os juros básicos do Brasil em estratosféricos 19,50% ao ano, encerrou um longo período de 12 meses de alta dos juros e aconteceu 17 meses depois da última redução, de 16,25% para 16%, em abril do ano passado. Os dirigentes do BC justificaram a decisão unânime da quarta-feira 14, dizendo que “a flexibilização da política monetária neste momento não compromete as conquistas obtidas no combate à inflação”. Com a inflação em baixa nos últimos meses, o Banco Central já sabe que a meta de inflação de 5,1% para este ano será alcançada com folga. Mais ainda: o cenário econômico – queda inflacionária, dólar baixo, exportações em alta e atividade econômica em crescimento controlado – leva os analistas (o BC e a equipe econômica incluídos) a vislumbrar um cenário ainda melhor em 2006, com a meta prevista de inflação de 4,5% podendo ser alcançada sem sustos.

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas está na hora de a instituição ficar mais atenta à economia real. “A inflação não assusta mais. Não será surpresa que, até dezembro, os juros baixem para 18% ou até um pouco menos. Para 2006, é possível esperar que a taxa Selic finalize o ano em no máximo 15%”, afirma Carlos Thadeu. Juros mais baixos soarão como música para o setor produtivo da economia, que poderá voltar a crescer em taxas bem acima dos 3,5% de crescimento do PIB previstos para este ano. “Antes tarde do que nunca. Foi uma redução inexpressiva, mas que já terá efeito psicológico”, afirmou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Ele acha que o BC deveria ter sido mais ousado. “Temos que continuar lutando para que não parem de baixar os juros, que continuam sendo os mais altos do mundo”, disse Skaf. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado federal Armando Monteiro (PMDB-PE), vai na mesma linha. “Ficamos frustrados porque a decisão do BC foi extremamente tímida. As condições da economia apontavam para uma queda maior. Se chegarmos a dezembro com 18%, o juro real ainda estará em 13%. É preciso baixar mais para a economia crescer”, afirmou. Se os empresários reclamam, o cidadão comum pouco sentirá os efeitos da queda dos juros. Mas, como considerou o presidente da Fiesp, já foi um bom começo.

Na análise dos especialistas é possível esperar juros em queda constante até o fim do ano que vem. Um teste para a nova política ocorreu na quinta-feira 15, quando o dólar desabou, valendo R$ 2,30. Dólar baixo ajuda a segurar a inflação, e o BC já percebeu que poderá baixar juro sem jogar o dólar para o alto. Mais ainda: a Bovespa teve alta de 1,09% e o risco Brasil caiu 2,61%, ficando em 372 pontos, outro sinal de confiança na política econômica de Lula. Com a meta de inflação de 4,5% para 2006, os juros vão ter que baixar mesmo: uma taxa anual de 16%, como em abril de 2004, já é alta demais, pois o juro real, descontada a inflação, ficaria acima de 11%. Caberá ao BC achar o chamado “juro real neutro”. Pelo andar da carruagem, estima-se que alcance 9% ao ano. Em Nova York, antes de voltar ao Brasil, o presidente Lula indicou que a queda será uma constante daqui para a frente. “Chegou o momento de os juros baixarem. A política econômica está sólida, os empregos crescendo e os salários em alta. É hora de retomar o crescimento”, afirmou.