Nem o afetuoso labrador do lobista Palmer Stoat escapou da ironia do escritor americano Carl Hiaasen. Vítima inocente das falcatruas de
seu dono, o animal é chamado de Boodle (termo inglês pouco conhecido para a palavra propina) no mais recente livro de Hiaasen publicado no Brasil,  A ponte da Ilha do Sapo (Companhia das Letras, 380 págs., R$ 47). Ambientado na Flórida, o romance narra os preparativos para a construção de um luxuoso empreendimento numa ilha selvagem, rodeada de praias imaculadas. Em ritmo alucinante, o autor faz interagir personagens absurdos, como um ecoterrorista milionário, um incorporador imobiliário com fixação na boneca Barbie e uma prostituta que só presta serviços a republicanos de carteirinha. Também não faltam políticos com princípios éticos altamente flexíveis, pois, quando o gênero é a sátira, sem dúvida Hiaasen é um mestre.

Em algumas passagens, o primitivismo nos bastidores do poder parece calcado
em republiquetas do Hemisfério Sul. Hiaasen, porém, tem suas próprias fontes
de inspiração. Colunista do jornal Miami Herald, ele conhece como poucos
a Flórida, Estado onde nasceu e sempre viveu. Nos seus livros, costuma
esmiuçar a degradação da região, que, nas últimas eleições presidenciais, garantiu a questionável vitória de George W. Bush. Ao mesmo tempo, Hiaasen escolhe tramas que permitem a imersão na libido alheia. Neste A ponte da Ilha do Sapo, de leitura fluida e prazerosa, sobram referências até aos supostos poderes afrodisíacos do pó de chifre de rinoceronte.