Alberto Korda (1928-2002) amava a revolução e as mulheres. Foi o primeiro fotógrafo cubano de moda e o primeiro a clicar nus femininos, influenciado pela elegância sensual do trabalho do americano Richard Avedon. Preferia mulheres esguias, de traços angulosos, por quem geralmente se apaixonava, como a bela Norka, descendente de índios sioux, mãe de dois de seus cinco filhos e modelo mais famosa de Cuba. Mas o Richard Avedon do Caribe também se deixou seduzir por um bando de barbudos de fardas verdes. Na companhia de Fidel Castro e Che Guevara se transformou em testemunha privilegiada da mais forte utopia da América Latina a se materializar: a revolução socialista cubana. A história profissional de Korda é agora contada por meio de 82 imagens em preto-e-branco – selecionadas entre 20 mil negativos – que compõem o livro Cuba por Korda (CosacNaify, 160 págs., R$ 69,50).

São exemplos incomuns da sua obra. Afinal, Alberto Korda é hoje internacionalmente conhecido por uma única foto, a de Che Guevara com o olhar vago e triste no horizonte. Tirada no comício realizado durante o enterro das vítimas do atentando ao cargueiro francês La Coubre – que trazia munições aos revolucionários em 1960 –, a foto contribuiu para a quase canonização do revolucionário, depois de impressa em pôsteres, camisetas e outros badulaques. Ao notar a expressão de Che, o fotógrafo que cobria o evento para o jornal Revolución fez dois disparos, um na horizontal e outro na vertical. Ampliou apenas a foto horizontal, que seria publicada um ano depois. Em 1967 foi procurado em Havana pelo editor italiano Giangiacomo Feltrinelli. Ele queria bons retratos de Guevara. Levou duas cópias. Che foi executado nas selvas da Bolívia, em outubro do mesmo ano. Com a morte do líder, Feltrinelli imprimiu milhares de pôsteres, sem dar crédito ao trabalho, pelo qual Korda jamais recebeu um centavo.

Ironicamente, Che Guevara não gostava de fotógrafos. Talvez por considerar o culto à imagem incompatível com seus ideais. Korda, porém, conseguiu desfrutar da intimidade de Fidel e Che, acompanhando-os em viagens das quais extraiu retratos históricos. O melhor, no entanto, são os flagrantes da viagem de Fidel a então União Soviética, quando se deliciou com brincadeiras na neve ao lado do líder comunista Nikita Kruchóv. Cuba por Korda traz, ao lado de cada foto, depoimentos do autor que explicam os movimentos da revolução, suas conquistas e crises. Alberto Korda morreu antes de o livro ser concluído.