Mais magra que a modelo Twiggy – a Gisele Bundchen da década de 1960 –, porém sem o menor glamour das passarelas, a poeta e cantora americana Patti Smith, 57 anos, caminha na direção oposta das rock stars que se empenham no prolongamento da beleza e da juventude. Em compensação, a cada novo disco, sua revitalização poética e sonora se mostra tão especial quanto os melhores vinhos envelhecidos. Trampin’ , seu álbum mais recente, é a melhor prova de que – ao contrário das opiniões caquéticas – o rock se recicla, se reinventa e, por que não, também se mantém conectado às raízes, basicamente se apoiando na mesma formação musical de baixo, guitarra e bateria. Patti Smith é daquelas artistas que, num universo eminentemente masculino, seguramente cobrem o espaço de 15 ou 20 machos. O vigor de suas letras, a fortaleza de sua música e de sua voz – que Madonna tenta imitar nas notas mais altas – são quesitos que há muito a colocam no olimpo feminino do rock.

De início influenciada pela poesia de Arthur Rimbaud e William Burroughs,
a roqueira foi uma das responsáveis pela explosão da cena punk/new wave.
Horses
, seu álbum de estréia, de 1975, produzido pelo velvet underground John Cale, está entre os clássicos dos clássicos e pode ser considerado uma das primeiras incursões no gênero. Desde este disco-evento, ela conta com a guitarra de Lenny Kaye e a bateria de Jay Dee Daugherty. Oliver Ray (guitarra) e Tony Shanahan (baixo e teclados) também a acompanham há algum tempo, prova de que os músicos e ela mantêm bons elos de fidelidade. Em Trampin’ , todos exercem uma perfeita comunhão musical. De Stride of the mind – rock com base pesada, de guitarra agrilhoada nas origens, porém oxigenada – à faixa-título, um spiritual que, conforme diz a letra, faz da sua casa um paraíso.