André Dusek

Missão: o vice José Alencar e Greenhalgh, o candidato oficial: busca da ordem unida no PT

A flor mais vistosa do atual recesso parlamentar de Brasília tem cinco pontas rombudas e a cor vermelho-sangue da estrela do PT. A sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP) na presidência da Câmara dos Deputados parecia definida com a sagração do petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) como candidato da bancada, depois de uma discreta contagem interna de votos que virou aclamação para ostentar unidade. O segundo mais votado no PT, o mineiro Virgílio Guimarães, desfilou sua mágoa encarnando na semana passada uma inesperada candidatura avulsa contra seu próprio partido, abrindo o ano-novo parlamentar com uma lambança federal que só o PT é capaz de produzir. “O problema todo é o PT. Quando não existe crise, eles inventam”, espantava-se o deputado federal Luís Antônio Fleury (PTB-SP), da base aliada. A confusão petista alumiou outras ambições presidenciais, antes relegadas. O líder do PFL, o baiano José Carlos Aleluia, empertigou-se: “Minha candidatura representa independência do Executivo. Sou um candidato dos deputados.” O eterno candidato da base mais clientelista, o pernambucano Severino Cavalcanti (PP), avisou aos amigos que vai entrar em campo. E até o paulista Michel Temer, presidente e líder da facção rebelde do PMDB que quer sair do governo, reanimou-se com a possibilidade de ser um tertius na briga intestina do PT, o que geraria uma lambança ainda maior: a vitória do peemedebista na Câmara desmontaria o acordo em torno de Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado.
Ichiro Guerra / André Dusek
Jogo paralelo: o peemedebista Michel Temer (acima) e o petista Virgílio Guimarães ocupam espaço no vazio político provocado pelo recesso parlamentar: marola para gerar notícia

Amigo de quarto – No espaço de uma semana, Lula teve dois encontros com o dissidente Virgílio, um velho amigo dos tempos de sindicalismo, que conheceu cinco anos antes de fundar o PT e com quem chegou a dividir um apartamento em Brasília, por dois anos, quando ambos eram deputados constituintes, em 1987. A intimidade não adiantou nada: Virgílio entrou e saiu do Planalto, na noite de quarta-feira 5, candidato avulso, embora fingindo, mineiramente, que não era. Horas antes, Lula apelou para o seu ministro da Defesa, José Alencar, comandante supremo do PL, outro partido da base aliada que, como o PTB, ameaça pingar votos em Virgílio. Alencar chamou ao Planalto quatro deputados do PL para um apelo à ordem unida em torno de Greenhalgh. “Mas Virgílio não é um candidato do PL, é um nome suprapartidário”, reagiu o baiano João Leão (PL), que naquele dia juntou 23 deputados em seu apartamento para um almoço de apoio a Virgílio, a quem prometeu os votos de 291 deputados, “incluindo 20 do PT”, na eleição contra o candidato oficial. “Virgílio vai ganhar de Greenhalgh dentro do PT, na votação de plenário”, arrisca Leão.

Ichiro Guerra / André Dusek

Jogo paralelo: o peemedebista Michel Temer (acima) e o petista Virgílio Guimarães ocupam espaço no vazio político provocado pelo recesso parlamentar: marola para gerar notícia

O chamado baixo clero da Câmara, que reúne a maioria anônima, parece ser a base natural de Virgílio, que rejeita a classificação pejorativa: “Baixo clero é quem tem problemas. Quem respira é baixo clero. Melhor do que os deputados do Salão Verde, que só aparecem para dar entrevista à tevê”, desdenha Virgílio. Os dois lados se desprezam, discretamente, mas dividem o poder, as verbas e os espaços mais visíveis do Congresso. Irritados com a escolha do nome de Greenhalgh que eles localizam no distante Salão Verde, a bancada do baixo clero que aposta em Virgílio se reuniu em torno de um movimento chamado “Câmara Forte”, que o Planalto classifica de gente mal atendida na Comissão de Orçamento. “Temos 50 coordenadores e cada um deles está em contato com outros dez deputados”, apregoa o baiano Leão, mentor do grupo.

Na cúpula do PT e nos ministros mais próximos a Lula existe a convicção de que Virgílio arrisca um vôo solo, que talvez não chegue à véspera da eleição, em 15 de fevereiro. Os dissidentes juram que puxando os cordéis de Virgílio estaria o atual presidente João Paulo Cunha, que chegou a abrir sua preferência pelo deputado mineiro. Esta lenda será desfeita na segunda-feira 10, quando João Paulo volta de seu retiro no paraíso fluvial de Jalapão, no Tocantins, para assumir a coordenação da campanha de Greenhalgh. Junto com o candidato, João Paulo vai viajar pelo País para apresentar seu sucessor oficial. Virgílio, afastado de seu antigo aliado, recebeu um duro recado do presidente do PT, José Genoino, devidamente ensaiado pelo Planalto: “Virgílio, você pode até ser candidato, mas será por outro partido.” As portas do PT estão abertas para a saída de mais um dissidente. Como nada disso deve ocorrer, para alívio de Virgílio, de Greenhalgh e do próprio PT, o País vai descobrir que estará diante de uma nova flor do recesso, que viceja no cerrado de Brasília nestes duros tempos de muito recesso e pouca notícia.