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Um cenário bucólico, 12 horas de música eletrônica e mais de duas mil pessoas dançando por horas a fio. Para completar o quadro, há ainda excesso de álcool e de drogas, como ecstasy e LSD. As chamadas raves existem no Brasil desde o começo dos anos 1990 e proliferaram de forma silenciosa no País ao longo das duas últimas décadas. Hoje, calcula-se que existam pelo menos 1,4 mil festas por ano, levando ao menos 500 mil jovens para esse tipo de balada por mês. Trazida por DJs estrangeiros, a rave chegou primeiro onde nasceu o Brasil: no sul da Bahia. E é justamente lá que se desenrola uma das maiores brigas envolvendo uma festa desse estilo. A 303 Art Festival, que vai durar cinco dias e será realizada em Trancoso no Ano-Novo, vem dividindo opiniões da comunidade local, que teme os impactos ambientais do evento.

Mas os problemas causados pelas raves são muito maiores, principalmente pela mistura explosiva gerada pela quantidade de gente (até menores de idade), o abuso de álcool e drogas, poucos seguranças e falta de controle do que é feito dentro de festas como essas, que podem durar dias. Algumas raves chegam a comportar até 30 mil pessoas, como a Xxxperience, programada para acontecer no domingo 14, em Itu (SP). Resultado: muita gente passando mal e diversos casos de violência. Em 2008, Erick Jhonathan Esiquiel, 20 anos, foi espancado até a morte em uma rave realizada em Pirapora do Bom Jesus, no interior paulista. Por isso, é preciso repensar e regulamentar esses eventos para que não continuem sendo um pedaço de terra sem lei.

Há algumas iniciativas neste sentido. O deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) é autor de um projeto de lei que prevê uma série de exigências para a realização de uma rave – e multas pesadíssimas para quem não cumpri-las. “Como controlar tanta gente? Seria necessário pelo menos um segurança para cada 20 participantes e nenhum organizador faz isso”, afirma. Ele critica também as prefeituras, que veem nas raves uma boa fonte de recursos. “É muito comum um município proibir e o vizinho liberar, sobretudo as cidades pequenas que precisam de dinheiro”, diz ele. Se aprovada, a lei estadual teria uma só regra para todas as cidades de São Paulo. Enquanto isso, cada um resolve como pode. Em Campinas, por exemplo, o Ministério Público conseguiu aprovar na Justiça uma série de restrições.

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A TODA
Para aguentar dias na balada, jovens recorrem a drogas ou estimulantes.
É comum ver gente passando mal nas raves

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Sem parâmetros legais, as raves vão criando inovações. Para deixar o cenário ainda mais arriscado, algumas festas oferecem brinquedos radicais como atração extra – o que só potencializa os efeitos das drogas e do álcool. André Melo, organizador de um evento que aconteceu em São José do Rio Preto no final de outubro, se justificou: “É impossível fazer uma festa de qualquer natureza sem o consumo de álcool e drogas”, disse ele à Rede Globo. “No nosso evento, nós temos um entretenimento a mais, que é o parque de diversões, exatamente para o jovem usar cada vez menos a droga e a bebida.” Os perigos também existem a longo prazo. “A falta de sono, o uso repetido de drogas e estimulantes podem criar condições favoráveis a doenças cardíacas em quem tem tendência familiar”, diz o médico Múcio Oliveira, diretor da Unidade de Emergência do Instituo do Coração.

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“É impossível fazer uma festa de qualquer natureza sem o consumo de álcool e de drogas”
André Melo, organizador de rave

 

Para o escritor Tomás Chiaverini, que passou um ano pesquisando raves para fazer seu livro “Festa Infinita” (Ediouro), esses problemas acontecem porque as raves cresceram de forma desordenada e viraram um ótimo negócio. “O público original de rave é essencialmente pacífico”, diz. O que políticos, promotores e outras autoridades pretendem ao fechar o cerco contra as raves é fazer com que esse tipo de festa seja repensada. Que existam parâmetros e regras que padronizem esses eventos, garantindo maior segurança aos frequentadores. Uma revista mais controlada na entrada, um número maior de seguranças, fiscalização rígida em relação a menores e presença de médicos e enfermeiros são algumas das medidas que ajudariam a reduzir o número de brigas, acidentes e problemas de saúde.

No caso de Trancoso, o imbróglio envolve a questão ambiental, pois o local faz parte de uma Área de Proteção Ambiental (APA). Para o empresário Marcelo Almeida, da Fazenda Jacuman, um condomínio de luxo vizinho à região onde ocorrerá a festa, o evento pode gerar impactos tanto para a comunidade quanto para as espécies nativas. “Sem contar que a estrada, na qual só passa um carro por vez, não comporta um público desse tamanho”, afirma. Isabel Chaves, uma das organizadoras do evento, se defende: “Não é uma rave, é um festival de música e cultura.” Ela argumenta que o número de participantes será limitado a 3,5 mil pessoas, com ingressos acima de R$ 380 e que o tema é justamente a preservação ambiental. “Será um evento sustentável, com oficinas de cultura, espaço para crianças e também palco com música eletrônica”, diz. O terreno pertence à família dela e a festa conta com o apoio da Prefeitura de Porto Seguro. “Ela vai ajudar a trazer um turista cada vez mais qualificado para a região”, acredita Guto Jones, secretário de Turismo. “Se houver algum impedimento jurídico, procuraremos outro local”, afirma.

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