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Talvez seja chover no molhado falar sobre a franca revolução que vem chacoalhando os velhos humorísticos da televisão. Há como provar
a tese usando dezenas de argumentos. Desde as mais evidentes, como os programas “Pânico na TV” e “CQC”, até as coisas menos visíveis, mas não menos interessantes, como o delicioso programa “Larica com Paulo Tiefenthaler” (no Canal Brasil), os miniprogramas de Marcelo Adnet (MTV), a verve inegável de João Gordo (hoje na TV Record), Marcos Mion e mais uma meia dúzia de outros.

Mas é certo que no meio de muita gente engraçada, criativa, ou no mínimo esforçada, de vez em quando aparece alguém que se destaca absolutamente, que extrapola o campo da competência e começa a tangenciar o departamento da arte, um lugar que, feliz ou infelizmente, não é para quem quer, mas para quem pode.

Se restava alguma dúvida sobre o espaço reservado para Eduardo Sterblitch no tal cercado da arte, mesmo depois da criação de personagens tão non sense quanto hilários como Freddie Mercury Prateado, Ursinho Gente Fina, César Polvilho e dezenas de outros, ela caiu geral, depois da presença do ator no “Programa do Jô”, no dia 5 de novembro. A entrevista, que ocupou dois blocos inteiros do programa, produziu uma verdadeira catarse coletiva… O nome de Eduardo zarpou imediatamente para os Trend Topics do Twitter por conta de uma espécie de tsunami de posts que iam sendo jogados na web a cada frase da conversa divertidíssima travada entre o novato e o veterano do humor. Ambos brilharam, registre-se. Movidos por uma identificação imediata e absoluta entre semelhantes e por umas quatro doses de uísque cowboy, Edu e Jô causaram e divertiram como há muito não se via na tevê brasileira. No programa mencionado (que merece ser visto ou revisto no YouTube), Jô deixa claro que considera Eduar­do um dos maiores talentos da comédia brasileira que ele já viu em ação. E José Eugênio Soares conhece o assunto. Desde os tempos em que Ivon Cury ainda não precisava recorrer à peruca.

Algum tempo antes, em setembro, o “repórter excepcional” da Trip Arthur Veríssimo havia entrevistado Eduardo para a revista. Uns dias depois, foi a minha vez de entrevistar o mesmo Eduardo em nosso programa de rádio. Logo em seguida, foram produzidas fotos para a capa da publicação, clicadas por Kiko Ferrite, que gentilmente cedeu uma delas à coluna.

O motivo era um só. Em pouco tempo de conversa, descobre-se a base sólida de sua formação artística. Para citar o mínimo, foram anos a fio no Teatro Tablado, no Rio de Janeiro, cursos e oficinas, formais e informais com especialistas na arte de “clown”, leituras orientadas das melhores obras, incluindo aquelas indispensáveis à formação de atores…e, em especial, anos a fio de apresentações públicas de todos os tipos, desde as festinhas em casa quando o sujeito ainda era um garotinho de 30 quilos até as apresentações com o grupo de comédia Deznecessários, chegando aos dois anos e meio de atuação no “Pânico na TV” ou à peça que concebeu, escreveu e apresenta no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, às segundas-feiras.

Anote: Eduardo Sterblitch, como já sabia Emilio Surita e como atestou Jô Soares, é um dos maiores comediantes brasileiros em atuação. E o moleque tem 23 anos.

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente