12/11/2010 - 21:00
Talvez seja chover no molhado falar sobre a franca revolução que vem chacoalhando os velhos humorísticos da televisão. Há como provar
a tese usando dezenas de argumentos. Desde as mais evidentes, como os programas “Pânico na TV” e “CQC”, até as coisas menos visíveis, mas não menos interessantes, como o delicioso programa “Larica com Paulo Tiefenthaler” (no Canal Brasil), os miniprogramas de Marcelo Adnet (MTV), a verve inegável de João Gordo (hoje na TV Record), Marcos Mion e mais uma meia dúzia de outros.
Mas é certo que no meio de muita gente engraçada, criativa, ou no mínimo esforçada, de vez em quando aparece alguém que se destaca absolutamente, que extrapola o campo da competência e começa a tangenciar o departamento da arte, um lugar que, feliz ou infelizmente, não é para quem quer, mas para quem pode.
Se restava alguma dúvida sobre o espaço reservado para Eduardo Sterblitch no tal cercado da arte, mesmo depois da criação de personagens tão non sense quanto hilários como Freddie Mercury Prateado, Ursinho Gente Fina, César Polvilho e dezenas de outros, ela caiu geral, depois da presença do ator no “Programa do Jô”, no dia 5 de novembro. A entrevista, que ocupou dois blocos inteiros do programa, produziu uma verdadeira catarse coletiva… O nome de Eduardo zarpou imediatamente para os Trend Topics do Twitter por conta de uma espécie de tsunami de posts que iam sendo jogados na web a cada frase da conversa divertidíssima travada entre o novato e o veterano do humor. Ambos brilharam, registre-se. Movidos por uma identificação imediata e absoluta entre semelhantes e por umas quatro doses de uísque cowboy, Edu e Jô causaram e divertiram como há muito não se via na tevê brasileira. No programa mencionado (que merece ser visto ou revisto no YouTube), Jô deixa claro que considera Eduardo um dos maiores talentos da comédia brasileira que ele já viu em ação. E José Eugênio Soares conhece o assunto. Desde os tempos em que Ivon Cury ainda não precisava recorrer à peruca.
Algum tempo antes, em setembro, o “repórter excepcional” da Trip Arthur Veríssimo havia entrevistado Eduardo para a revista. Uns dias depois, foi a minha vez de entrevistar o mesmo Eduardo em nosso programa de rádio. Logo em seguida, foram produzidas fotos para a capa da publicação, clicadas por Kiko Ferrite, que gentilmente cedeu uma delas à coluna.
O motivo era um só. Em pouco tempo de conversa, descobre-se a base sólida de sua formação artística. Para citar o mínimo, foram anos a fio no Teatro Tablado, no Rio de Janeiro, cursos e oficinas, formais e informais com especialistas na arte de “clown”, leituras orientadas das melhores obras, incluindo aquelas indispensáveis à formação de atores…e, em especial, anos a fio de apresentações públicas de todos os tipos, desde as festinhas em casa quando o sujeito ainda era um garotinho de 30 quilos até as apresentações com o grupo de comédia Deznecessários, chegando aos dois anos e meio de atuação no “Pânico na TV” ou à peça que concebeu, escreveu e apresenta no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, às segundas-feiras.
Anote: Eduardo Sterblitch, como já sabia Emilio Surita e como atestou Jô Soares, é um dos maiores comediantes brasileiros em atuação. E o moleque tem 23 anos.
A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente