Em sua obra “O Príncipe”, um verdadeiro tratado sobre a arte de governar, Nicolau Maquiavel ensina que as más notícias devem ser dadas o quanto antes e todas de uma só vez, enquanto as boas notícias devem ser espaçadas ao longo do maior tempo possível.

Transferindo a sabedoria do mundo dos Médici para nossa democracia tupiniquim, presidentes, governadores, prefeitos e demais políticos que almejem a reeleição devem adotar medidas necessárias, mas impopulares, assim que tomarem posse e deixar medidas populares para mais perto das próximas eleições.

Ao lançar o balão de ensaio da suposta recriação da extinta CPMF, nossa recém-eleita rainha Dilma parece ter seguido os conselhos de Maquiavel. Difícil pensar em algo mais impopular do que reavivar um dos impostos mais malvistos da história brasileira.

Envergonhada com seu maquiavelismo, nossa soberana resolveu compensar e jogar para a torcida, dizendo pretender também elevar o salário mínimo a R$ 600 até o final de 2011 – fantasia lançada por seu adversário nas eleições, o derrotado José Serra. O custo anual para o governo da suposta benesse: R$ 28 bilhões. Adivinhe quem vai acabar pagando esta conta? Acertou!

Não contente em aumentar impostos e gastos ­públicos – que exigirão ainda mais impostos no futuro –, nossa presidente já adotou outro bordão
da campanha serrista: os juros brasileiros são elevados demais e o novo governo deve forçar o Banco Central a reduzi-los rapidamente.

Mais do que a cartilha de Maquiavel, Dilma parece seguir a cartilha tucana, afinal também foram eles que criaram a CPMF.

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Durante a campanha eleitoral, afirmei categoricamente que, pelo menos em matéria econômica, os dois principais candidatos eram muito parecidos. Ouvi reações indignadas dos dois lados. Entretanto, Serra e Dilma apoiam a manutenção dos principais pilares da política econômica do atual governo e do segundo mandato de FHC – que afinal são os mesmos. Além disso, defendem um Estado interventor e com presença destacada na economia.

Antes do início do processo eleitoral, dado o histórico de ambos, imaginava-se que uma diferença importante entre eles seria um empenho maior de Serra em reduzir gastos públicos. Durante a campanha – talvez por estar atrás nas pesquisas –, na tentativa de se posicionar supostamente à esquerda de Dilma, Serra descambou para o “promessismo”, com direito a mínimo de R$ 600, mais 10% de aumento aos aposentados, mais 13º salário e aumentos reais ao Bolsa Família. Destruiu, assim, eventuais diferenças que haveria entre eles no campo fiscal. Agora, é a candidata eleita que resolveu aproximar-se do rival.

Faço aqui um apelo. Presidente, a senhora, como todos os brasileiros, quer que os juros caiam, mas não que a inflação suba. Em vez de criar impostos, aumentar gastos e forçar o Banco Central a reduzir os juros artificialmente, corte os gastos do governo – os mais elevados do mundo emergente. Os juros cairão sozinhos e, com a consequente queda do custo da dívida pública, sobrará dinheiro para a Saúde sem precisar
da CPMF. Pode até sobrar algum para os seus projetos do PAC e, pasme, para cortar impostos.

Ricardo Amorim é economista, apresentador do “Manhattan Connection” (GNT) e do “Economia e Negócios” (Rede Eldorado) e presidente da Ricam Consultoria


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