Dois anos atrás, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) resolveu buscar novos clientes. Não do tipo tradicional, aquele investidor acostumado ao jargão próprio e aos riscos do mercado de capitais. A idéia era atrair o trabalhador comum, o profissional liberal, o aposentado, estivessem onde estivessem. A campanha marcou presença em portas de fábricas, praias, universidades, shoppings. O Bovmóvel, uma unidade de atendimento ambulante, correu o País com a mensagem de que investir em ações é um ato simples e acessível a qualquer pessoa. Deu muito certo. Hoje, 30% das transações são realizadas por pessoas físicas, contra 17% de antes do início do esforço de atração. Agora chegou a hora de retribuir a acolhida popular e abrir as portas para as massas. Desde o final de semana passado, o charmoso prédio da Bolsa no Centro de São Paulo fica aberto à visitação aos sábados e domingos. “Vamos entrar no roteiro turístico de São Paulo”, aposta o presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho.

A Bolsa fica num lugar privilegiado da cidade, na histórica rua XV de Novembro, a alguns passos do Vale do Anhangabaú, à sombra do edifício Martinelli e próximo de locais recentemente renascidos, como o prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil, a Prefeitura de São Paulo e as secretarias estaduais. “Há dez anos o Centro era um mico. A revitalização é impressionante. Hoje há mais segurança, mais limpeza”, diz Magliano. Até vida noturna já se vê por lá. “Às quintas-feiras, tem um sambão aqui do lado que é uma beleza. Quando a Bolsa sobe, dá vontade de ir lá dançar”, brinca o presidente.

O projeto “Bolsa Aberta” prevê que os visitantes conheçam o espaço reservado durante a semana para os pregões, palco de uma imagem tão popular quanto distante do cotidiano da população. Além disso, promotores da Bovespa vão ensinar o bê-á-bá do mercado de capitais para os visitantes, que ainda serão convidados a assistir um vídeo institucional em 3D – os óculos podem ser levados de lembrança. A idéia surgiu quando um funcionário da Bolsa precisou trabalhar em um final de semana. “Ele chegou e viu um grupo de pessoas observando o prédio. Eram turistas”, diz Magliano. Se eles estavam tão interessados, por que não podiam visitar o prédio? O estalo resultou no projeto, que ainda tem um forte apelo social. Grupos artísticos da periferia vão se apresentar durante os “pregões” turísticos dos finais de semana. Até que a habitual balbúrdia dos operadores retorne na segunda-feira.