Depois de conquistar milhares de mulheres com seu jeito tímido, compenetrado, delicado e involuntariamente engraçado, Carlos Moreno, o garoto da Bom Bril, encerrou sua história na campanha publicitária mais duradoura e bem-sucedida da propaganda brasileira, assinada orgulhosamente pela W/Brasil. Em 26 anos desde a estréia no papel, Moreno viveu com senso de humor, alegria e respeito algumas caracterizações inesquecíveis, como Che Guevara (um dos líderes da revolução cubana), Robinho (atacante do Santos), Tiazinha (estrela de brilho passageiro), Monalisa (obra de Leonardo Da Vinci, a mais popular do Museu do Louvre, em Paris), Nicéia Pitta (ex-mulher do prefeito Celso Pitta) e muitos outros que o ator nem lembra de imediato. ‘Gostei muito da Monalisa”, diz ele. Até hoje, em pesquisas de rua sobre a lembrança de comerciais as pessoas incluem a dupla Carlos Moreno-Bom Bril entre os cinco primeiros. Curioso é que a empresa não anuncia nada há pelo menos um ano, período em que chegou pertinho da falência e seu garoto, um ator com 50 anos, sobreviveu sem um arranhão.

Inovação – Neste domingo ele faz seu último comercial para a Bom Bril e apresenta a nova campanha da W/Brasil: “Bom Bril, a marca da maioria”, que na primeira
etapa custará R$ 5 milhões. Começa com a despedida de Moreno, que, de fato, deixou o ator emocionado (errou duas vezes na gravação, coisa que nunca aconteceu em 26 anos). Ele diz no filme: “Não posso ficar triste. Toda vez que a senhora usar um produto Bom Bril vai lembrar um pouquinho de mim. Eu queria agradecer do fundo do meu coração.” Segue com as primeiras minorias que vão ganhar voz em filmes de 30 segundos. A social, dos deficientes físicos, representados pela ativista Maria Gabrill. Ela diz: “Nunca na história da propaganda brasileira chamaram uma mulher em cadeira de rodas para anunciar algum produto. Só mesmo a Bom Bril poderia colocar isso em pratos limpos.” Tem a minoria sexual, em que um casal gay anuncia que “assim como a maioria da famílias também preferimos o Bom Bril”. A minoria futebolística traz um torcedor de cabelo em pé, do time de futebol América, do Rio de Janeiro, que sobrevive só com fanáticos à espera do dia em que Romário cumpra a promessa de encerrar sua carreira no time de seu pai. “A gente nasce torcedor do Ameriquinha, mas quando escolhe, a gente escolhe como a maioria, escolhe o Bom Bril.” São todos muito interessantes: o vesgo que faz parte da minoria estética (“Essa é a primeira vez que colocam um vesgo num comercial sem fazer piada); a mulata de olhos verdes, lembrando que “no fundo somos todos iguais… e também preferimos Bom Bril para deixar nossas panelas brilhando…” Finalmente vem o representante da minoria comportamental, numa brincadeira engraçada com o arroz com feijão de cada dia.

Teatro – É uma campanha inovadora na propaganda, leve, bem sacada num momento em que as minorias vêm à tona no dia-a-dia do País. Tem tudo para ser bem-sucedida. Principalmente muito talento. A criação é de Olivetto, Ricardo Freire e Gime. “O Washington e toda equipe da W/Brasil têm uma capacidade enorme para criar”, diz Carlos Moreno. “Eles mantiveram o frescor da nossa campanha por 26 anos. É inacreditável.” Parar por que, então? “Porque combinamos encerrar a carreira do “garoto” quando estivesse no auge, para deixar um gostinho de saudade.” Logo a saudade passa. Não se pode esquecer que ele é um grande ator. Nesse momento está no teatro Tuca Arena, em São Paulo, atuando na peça Turistas e refugiados, elogiado até pela crítica, algo que é bem mais difícil do que representar a Monalisa numa propaganda de produtos de limpeza.