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O artista francês Fernand Léger começou a se interessar pelo Brasil por influência de seus dois grandes amigos em Paris: Darius Milhaud, compositor francês muito influenciado pela música negra e seus desdobramentos no jazz americano e nos ritmos brasileiros, e Blaise Cendrars, poeta suíço que depois de visita ao Rio de Janeiro influenciou a poesia modernista brasileira e foi influenciado por ela. Léger nunca pisou no Brasil, mas sempre esteve presente por aqui. Por um lado, participou de seis Bienais de São Paulo, sendo que na terceira edição, em 1955, expôs 38 pinturas e recebeu o Grande Prêmio de Pintura.

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CARNAVAL À FRANCESA Amiga e discípula de Léger, Tarsila do Amaral foi marcada pelo estilo do pintor francês. Carnaval em Madureira (acima) é o encontro do Rio com Paris

Por outro lado, fez amizade com os brasileiros que conheceu em Paris, entre eles o jornalista e empresário Assis Chateaubriand, a escultora Maria Martins, a pintora Tarsila do Amaral – que frequentou seu ateliê em 1923, quando morou em Paris – e o escritor Oswald de Andrade, então companheiro de Tarsila. O ano da França no Brasil configura, então, a ocasião adequada para a realização de uma exposição que explicite a relação de Léger com os brasileiros.

Com curadoria de Brigitte Hedel-Samson, do Musée National Fernand Léger, e curadoria adjunta de Regina Teixeira de Barros, da Pinacoteca do Estado, a mostra inclui três telas de Tarsila, que é, reconhecidamente, a discípula brasileira de Léger. Entre elas, Carnaval em Madureira, em que a Torre Eiffel entra em ritmo carnavalesco. Entre as 50 obras de Léger, figuram Composição com aloés, de 1935, exposta na mostra inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949, e pinturas que pertenceram a coleções particulares de nossos artistas modernistas, como, por exemplo, a tela nº 4 da série La chapelinade le charlot cubiste, que foi de Tarsila.

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NATUREZA-MORTA Em O vaso vermelho com guitarra, Léger aplica o cubismo a um tema clássico da história da arte

A tela faz homenagem a Carlitos e a série completa foi usada na abertura do filme Ballet mécanique, produzido pelo artista em 1923. No filme, além da menção a Charles Chaplin, que era para Léger "o personagem mais cubista que já existiu", percebe-se também a influência de sua convivência com Tarsila na presença de um papagaio refletido em diversos espelhos. A relação de amizade e troca com o Brasil aparece em diversos outros projetos, como a maquete de uma utópica aldeia de artistas na Riviera Francesa, encomendada por Assis Chateaubriand e Yolanda Penteado. O projeto, com espaços expositivos, ateliês, teatros e jardins de esculturas ao ar livre, nunca foi concretizado, mas inspirou a arquitetura das Casas de Cultura construídas na França dez anos depois.

Crítica

O fim do pós-modernismo?

por Paula Alzugaray

Altermodern : Tate Trienial 2009/ Tate Britain, Londres/ até 26/4

No coração de Londres, o museu Tate Britain é a plataforma de lançamento para a mais recente teoria estética do curador francês Nicolas Bourriaud: o "altermoderno", um novo sistema de leitura crítica criado para dar conta da arte produzida em tempos de globalização. O conceito nasce movido pelo desejo de criar uma forma de modernismo para o século XXI.

O período altermoderno seria a continuação natural para o pósmoderno, que deu sequência ao modernismo. O argumento de Bourriaud é que, se o modernismo foi considerado pela historiografia da arte como um fenômeno essencialmente "ocidental" (que ele quer dizer, europeu e norte-americano), o altermodernismo emerge a partir das negociações entre agentes de diversas culturas e localizações geográficas.

Segundo o autor escreve no texto do catálogo, o termo tem origem na ideia da "alteridade" (do latim alter: outro) e detecta a predisposição da cultura e da arte contemporânea à assimilação da diversidade. A arte altermoderna seria algo como um arquipélago de ideias, unidas pela necessidade de combater uma uniformização orientada pelo consumo. Seria uma forma de arte ligada ao deslocamento, o êxodo, a viagem.

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A teoria é sofisticada e articulada com teorias econômicas e geopolíticas, como a "alterglobalização". Ocorre que, para dar forma a essa ideia, foram selecionados 28 artistas que são, em sua maioria, ingleses ou residentes na Inglaterra. O fato de a exposição acontecer dentro de uma trienal da Tate Britain (exposição periódica que busca detectar o estado da arte contemporânea britânica) inviabiliza a realização prática da teoria altermodernista. Se o intuito era explorar uma "paisagem transcultural", um modernismo resultante de um "diálogo global", reafirma-se aqui uma arte de teor "ocidental" e excludente.

Apesar de apresentar alguns trabalhos fortes, como a videoinstalação autobiográfica de Lindsay Seers (foto), nascida na Mauritânia, Altermodern é uma exposição que não brilha pelas obras (o caráter "transitório" das obras selecionadas confere-lhes um aspecto inacabado que nem sempre é satisfatório). Por destacar-se mais pelo conceito do que pela curadoria, esta exposição seria um prato cheio para os céticos que criticam o papel de protagonista que o curador assumiu no sistema da arte.


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