A carta-testamento de Getúlio Vargas, que há décadas é analisada pelos historiadores e ensinada nas aulas de história em todo o País, não seria verdadeira. A real carta escrita por Vargas a lápis está em poder da família e seu teor só agora vem a público. A transcrição será exposta a partir de segunda-feira 23 na inauguração do memorial Getúlio Vargas e na terça-feira 24 no Museu da República, ambos no Rio de Janeiro. O verdadeiro texto tem profundas diferenças em relação à carta divulgada antes, que teria sido criada por assessores. Não consta do documento, por exemplo, a famosa frase “saio da vida para entrar na história”. A família de Vargas alega “motivos particulares” para nunca ter divulgado a carta original. O texto, que no cinquentenário da morte de Vargas vai mudar o perfil desse personagem histórico, é publicado abaixo com exclusividade por ISTOÉ.

Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.
Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país, contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para com mais fúria, perseguirem-me e humilharem. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde….
Getulio Vargas