Quando foi descoberta pelos turistas, a pequena e simpática vila de Trancoso, no sul da Bahia, era ponto de encontro de hippies. Foi um pulo para virar moda e atrair a alta sociedade. Desde junho, com a inauguração do Terravista Golf Course, um campo de golfe de US$ 4 milhões, virou ponto de encontro de golfistas do mundo todo. Encravado ao lado do mais novo resort do Club Med no País, aberto no ano passado, o campo de golfe é um dos mais bonitos do planeta. Quatro de seus 18 buracos ficam bem na beira de um precipício. O golfista dá suas tacadas no alto de uma falésia de 40 metros de altura que se ergue na praia, um convite perfeito a bolinhas perdidas e à contemplação da paisagem, com direito a apreciar tartarugas gigantes que nadam no mar.

Há quem goste de emoldurar um cenário desses numa das janelas de casa.É o caso dos endinheirados que já compraram metade dos 89 lotes do condomínio Terravista. Quando prontas, as casas estarão praticamente dentro do campo. Metade delas terá visão do campo de golfe e do mar, tão salgado quanto o preço dos terrenos, que vai de US$ 100 mil a US$ 1 milhão. Entre os futuros condôminos do Terravista estão americanos, portugueses, japoneses, franceses, alemães e brasileiros, como Francisco Gros, ex-presidente da Petrobras, e o arquiteto Sig Bergamin.

Condomínios encravados entre as raias de um campo de golfe já existem faz tempo no Brasil. Um exemplo é o São Fernando Golf Club, em Cotia, na Grande São Paulo, que fica dentro de um condomínio residencial e comemora este ano seu cinquentenário. Mas nunca o País viu tantos condomínios voltados para golfistas e projetos nessa área pipocarem ao mesmo tempo. “O conceito de clube de golfe já está ultrapassado. O forte agora são campos ligados a empreendimentos turísticos e imobiliários”, diz o empresário Álvaro Almeida, presidente da Federação Paulista de Golfe. O Brasil tem 67 campos oficiais filiados à Confederação Brasileira de Golfe. Desses, 11 ficam dentro de condomínios. Apenas em São Paulo há projetos para outros sete campos – todos eles ligados a empreendimentos imobiliários. Isso sem contar outros três projetos em Santa Catarina, três no Paraná, um no Rio Grande do Sul, um em Goiás e a implantação de um condomínio na Costa do Sauípe, pólo turístico que conta com campo de 18 buracos. Parece – e é – muito condomínio para pouco golfista, já que há apenas 20 mil praticantes do esporte no Brasil. Mas os investidores não estão de olho apenas nos jogadores, e sim naqueles que são atraídos pela beleza do campo e pelo estilo de vida ligado ao esporte.

Jardim gigante – “O golfe caiu no gosto da elite e começa a contaminar outros segmentos da sociedade”, diz Romeu Chap Chap, presidente do Secovi (Sindicato da Habitação) e um dos sócios do projeto Terravista. Esse avanço da modalidade no País pode ser medido pelo sucesso dos mais recentes condomínios de golfe. É o caso do Fazenda da Grama, que fica na região de Campinas. Duas semanas após o lançamento, em abril, todos os 116 lotes de três mil metros quadrados já haviam sido vendidos a preços entre R$ 240 mil e R$ 444 mil, antes mesmo de o campo ficar pronto, o que está previsto para 2005. “O golfe embeleza e valoriza o empreendimento e vira uma atração, mesmo para quem não joga”, diz o idealizador do projeto, o empresário Aluízio Rebello de Araújo, da companhia Terras Novas. No caso do Fazenda da Grama, metade dos compradores dos lotes não joga golfe. “Ainda não”, corrige o empresário, praticante entusiasmado e confiante no poder de atração do esporte.

A “conversão” de não golfistas em golfistas é algo corriqueiro. É o caso do advogado paulista Fernando Furriela. Há três anos, ele comprou uma casa que fica dentro do campo do condomínio Lago Azul, em Sorocaba, no interior paulista. “Gostei muito do verde, da parte paisagística e da segurança. O visual é harmônico. Minha casa fica cercada por um jardim de 600 mil metros quadrados”, diz ele. Seis meses depois, Furriela já havia sido contagiado pela febre. Atualmente, tenta jogar todos os finais de semana, quando deixa São Paulo com a família rumo ao interior.

Outros condomínios próximos de São Paulo são também boas opções para se manter as tacadas em dia. É o caso do Quinta da Baroneza, em Bragança Paulista. O conceito inicial do empreendimento era de segunda moradia, mas já tem muita gente falando em se mudar para lá, aproveitando a proximidade da capital paulista, a apenas 90 quilômetros de distância. O condomínio possui um campo de golfe de 880 mil metros quadrados. Mais de 500 lotes de 3,5 mil metros quadrados já foram vendidos (por R$ 420 mil cada um) e as primeiras casas (e mansões) estão em construção.

Os condomínios de golfe tupiniquins atraíram a atenção de um dos bilionários mais famosos do mundo, o americano Donald Trump. Amante do esporte, Trump escolheu Itatiba, a 80 quilômetros de São Paulo, como local para seu primeiro empreendimento imobiliário na América Latina. O Villa Trump vai consumir US$ 40 milhões, vindos de investidores brasileiros. “Fizemos estudos e vimos que o Brasil possui um número expressivo de milionários que podem virar sócios”, disse a ISTOÉ o vice-presidente das empresas de Trump, George Ross, que esteve em São Paulo na semana passada. Só mesmo sendo milionário: o título do Villa Trump custará entre US$ 350 mil e US$ 500 mil. O empreendimento vai contar com mansões, bangalôs de luxo, spa e campo de golfe projetado por Jack Nicklaus, um dos maiores golfistas de todos os tempos. Ricardo Bellino, representante de Trump no Brasil, acredita que apenas 30% dos sócios serão golfistas. “Os outros serão atraídos pelo estilo de vida e relacionamentos que o golfe proporciona”, aposta. Quando quiserem começar a jogar, só terão que cruzar a porta de casa para dar as primeiras tacadas no quintal de 18 buracos.