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Na semana passada, a Agência Espacial Americana (Nasa) tirou a “vassoura” do armário e tratou de limpar a Estação Espacial Internacional. Foi infringida a regra número 1 do manual de limpeza doméstica: nunca jogar o que não presta pela janela porque pode cair na cabeça de alguém. Foi isso o que os astronautas Clay Anderson e Fyodor Yurchikhin fizeram ao escolher como lixeira a atmosfera terrestre. O lixo, em questão, é um tanque de amônia pesando 636 quilos e que atravessará a atmosfera dentro de um ano – devido ao atrito e ao calor, espera-se que ele se despedace em inúmeras partes de aproximadamente 20 quilos. Esse tanque pode ser a gota d’água da lixeira sideral que já conta com mais de 300 milhões de fragmentos descartados ao redor de nosso planeta. Agora, cuidado: a chance de tudo isso despencar cá na terra, e de uma “sujeirinha” atingir alguém, é uma em cinco mil. Pode até ser difícil acreditar. Mas o fato é que já aconteceu.

1,5 mil km de altitude, a partir da atmosfera terrestre, é onde se localiza a maior quantidade de lixo

Eram três e meia da manhã do dia 22 de janeiro de 1997 quando uma senhora chamada Lottie Williams caminhava num parque da cidade de Tulsa, em Oklahoma. De repente, observou um objeto brilhante que caía do céu. “Pensei ser um meteorito”, disse ela. Em poucos segundos, Lottie foi atingida no ombro por um tipo de metal negro, mais tarde confirmado como parte do tanque de combustível do foguete Delta II. Ela não se feriu, dado o diminuto tamanho do objeto — sorte não ter sido atingida por um “lixo voador” de 20 quilos como os pedaços do tal tanque de amônia descartado na semana passada. Vale ressaltar que horas depois de ele ter sido “varrido”, o Centro de Controle de Vôos Espaciais (CCVE) da Rússia passava um alerta para a sua base no espaço. E a própria Estação Espacial Internacional teve de elevar em 7,5 quilômetros a altura de sua órbita, justamente para não se chocar com o próprio detrito que jogou fora.

330 milhões é o número estimado de fragmentos que circulam ao redor da Terra

A história da exploração espacial deixou ao redor do planeta milhares de fragmentos de satélites, de foguetes e de espaçonaves circulando a uma velocidade de cerca de 25 mil quilômetros por hora. Esse lixo se converte em “arma de energia cinética não guiada, de altíssima velocidade”, na definição do cientista americano Chalmers Johnson. Mais: o Departamento de Defesa dos EUA estima que um fragmento de dez centímetros possa causar tantos danos a uma espaçonave quanto uma explosão de 25 cartuchos de dinamite. A preocupação com acidentes levou a equipe americana a estudar materiais que possam ser totalmente desintegrados em sua entrada na atmosfera, como é o caso do alumínio. Por outro lado, se um componente é feito de materiais com pontos de fusão mais altos, como o titânio e o aço inoxidável, corre-se o risco de o objeto chegar inteiro ao solo. Atualmente, o lixo espacial que está em órbita baixa da Terra é calculado em duas mil toneladas e pode afetar toda a navegação espacial, militar ou civil – e de qualquer nação. Ou seja: embora para o mal, esse lixo é democrático.

25 mil km/h é a velocidade média que atinge o lixo em órbita

 

 

 

 

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O TANQUE QUE CAIU DO CÉU
No dia 22 de janeiro de 1997, no Texas, o tanque de combustível do foguete Delta II, lançado no ano anterior, voltou intacto ao solo. A Nasa levou um susto com a queda do objeto de 250 quilos que não foi identificado pelos radares. Ao entrar na atmosfera, algumas “lascas” do tanque se desprenderam e, por incrível que pareça, atingiram a americana Lottie Williams, em Oklahoma. Por sorte, somente sorte, ela não se feriu.