Maior estrela individual do esporte brasileiro desde Ayrton Senna, o tenista Gustavo Kuerten, tricampeão em Roland Garros – 1997, 2000 e 2001 –, reconheceu, depois de ser eliminado no primeiro confronto olímpico, na segunda-feira 16, contra o chileno Nicolas Massu, que não é mais o mesmo. As dores no quadril direito – operado em 2002 – tornaram as 2h14 de jogo uma experiência torturante. “Minha situação é delicada, não sou o mesmo cara de antes, não tenho as mesmas condições”, disse após a derrota. Ouviu perguntas insistentes sobre a possibilidade de abreviar a carreira aos 28 anos – que completa em setembro. Guga não só negou o fim como assegurou que participará do US Open nos Estados Unidos – última competição de ponta do ano – e anunciou que estará em Pequim 2008. Após se recusar a jogar a Copa Davis pelo Brasil, fez da Olimpíada sua prioridade do ano. E o resultado alimentou suspeitas de que sua carreira corre riscos.

Ele joga tênis competitivo desde os primeiros torneios infantis, em 1981. Como profissional, acumulou em prêmios até o final do ano passado exatos US$ 14.224.746. Dá para estimar, sem medo de errar, que junto com patrocínios amealhou um patrimônio superior a US$ 30 milhões. “No momento a contusão  está se tornando maior do que sua carreira”, atesta Paulo Cleto, capitão da
equipe brasileira na Copa Davis por 18 anos, técnico do tênis brasileiro nas Olimpíadas de Seul, Barcelona e Atlanta e autor de Gustavo Kuerten e Roland Garros – uma história de amor. “Ele tem outras coisas para fazer na vida, tem dinheiro, mora numa ilha maravilhosa, é surfista… Deve estar de saco cheio de sentir essas dores. Tem que decidir se vale a pena se expor nestes jogos sendo quem ele é”, completa Cleto. Segundo o técnico, para continuar, o tenista deverá encontrar novas formas de se motivar.

Ricardo Accioly, capitão de uma equipe brasileira na Copa Davis que tinha Guga como maior estrela, pensa igual. “É óbvio que ele está descontente com sua performance e vai buscar saídas.” Segundo Accioly, Guga, atual 20º do mundo, vem alterando sua rotina de treinos, reduzindo o tempo de quadra e aumentando fora, com o complemento físico. “Um jogador do nível do Guga já sabe o caminho das pedras.” Otimista, Accioly lembra de casos emblemáticos de superação. “O Agassi (André) fez cirurgias no pulso, na munheca, no ombro, caiu para o 140º lugar no ranking e se recuperou. O Carlos Moya teve uma lesão nas costas, caiu e hoje está no top ten. O Pete Sampras fez uma cirurgia nas costas, tinha uma hérnia de disco, e está bem”. Cabe a Guga apenas aceitar sua nova realidade. Reduzir o número de competições e focar apenas em torneios realmente importantes. “A lesão pode deixar sequelas, mas o Guga é duro na queda”, aposta Accioly. Se seu momento não é bom, a passagem de seus parcerios Flávio Saretta e André Sá por Atenas também foi pouco animadora. O acaso momentâneo de Guga é o retrato mais bem acabado do tênis nacional. Resta escolher: curtir a vida numa prancha ou correr o risco de passar a ser olhado, sem o mesmo respeito, por quem está do outro lado da rede.