Ele chegou a Atenas com o desafio de superar a mítica marca de sete medalhas de ouro em uma só Olimpíada, obtida pelo nadador americano Mark Spitz nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Logo no começo, duas derrotas, nos 200m livre e no revezamento 4x100m livres, no qual ficou com a medalha de bronze, acabaram com o sonho de bater Spitz. Mas o jovem Michael Phelps, 20 anos, não se abalou e deu a volta por cima, transformando-se na estrela maior da natação em Atenas. Na sexta-feira 20, ao vencer os 100m borboleta, conseguiu seu quinto ouro, igualando ainda o recorde de sete medalhas obtido por outro americano, Matt Biondi, nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988. Na verdade, o feito de Phelps é superior ao de Biondi porque, dos cinco ouros ganhos até agora, quatro foram em provas individuais, contra dois do campeão de 1988. E ele ainda pode chegar à oitava medalha e ao sexto ouro se vencer neste sábado o revezamento 4x100m medley, onde nadará a etapa do nado borboleta.

Mas Phelps não foi a única estrela a brilhar nas piscinas. O australiano Ian Thorpe ganhou duas medalhas de ouro, nos 400m e 200m livre, um bronze nos 100m livre, prova que não é sua especialidade, e uma medalha de prata no revezamento 4x200m livre, mostrando que segue sendo, aos 21 anos, um dos reis das piscinas mundiais. Uma das vitórias de Thorpe, que já soma cinco ouros em duas Olimpíadas, aconteceu nos 200m livre, prova que já está sendo considerada uma das maiores da natação em todos os tempos. Nadando lado a lado, Thorpe, Phelps e o “holandês voador” Pieter Van den Hoogenband, ouro nos 100m e 200m em Sydney, quatro anos atrás, disputaram braçada a braçada a vitória. Em Sydney, foi o holandês quem surpreendeu o australiano com uma arrancada fulminante nos 50 metros finais. Atenas viu o “Thorpedo” dar o troco e roubar o bi de Hoogenband no final. A Phelps, que deverá voltar a disputar com a dupla em Pequim, nos Jogos de 2008, restou admitir a superioridade dos dois e garantir o bronze. O holandês deu seu show nos 100m livre, quando completou os 50 metros em quinto e depois arrancou para a vitória, deixando para trás o sul-africano Roland Schoeman.

A presença feminina nas piscinas foi marcada principalmente pela espantosa velocidade da australiana Jodie Henry, que bateu o recorde dos 100m livre na semifinal, com 53s52 e na final derrotou a veterana holandesa Inge de Bruijn, campeã em Sydney. Inge, aos 31 anos, ainda teve forças de ganhar uma medalha de prata e outra de bronze. A loura e risonha Jodie também contribuiu de forma decisiva para a vitória da Austrália no revezamento 4x100m livre, nadando os 100m finais em espantosos 52s95, garantindo o ouro. As americanas também mostraram força em equipe, ao ganharem o revezamento 4x200m livre em 7m53s42, novo recorde mundial, mais de dois segundos mais rápido que o recorde anterior, que já tinha mais de 20 anos e pertencia a uma equipe da Alemanha Oriental.

Mas foi fora das piscinas que o espírito olímpico bateu mais forte. Na final individual de ginástica masculina, onde o atleta se apresenta no salto sobre o cavalo, o cavalo com alças, as argolas, as paralelas, a barra fixa e nos exercícios de solo, o americano Paul Hamm, campeão mundial, liderava com facilidade até que, ao completar o salto sobre o cavalo, caiu de mau jeito. A nota de 9,1 o derrubou da liderança para a 12ª posição, faltando apenas suas exibições nas paralelas e na barra fixa. Hamm, que tem um irmão gêmeo também integrante da equipe, pensou: “Acabou-se o ouro.” Mas juntou os cacos e foi em frente. Nas paralelas, ele deixou o estádio mudo de espanto com uma nota 9,837 que o fez ir para o quarto lugar. O americano foi o último a se apresentar na barra fixa. Desafiando a gravidade, por três vezes ele se soltou no ar, por cima da barra, segurando-se na queda para novos e precisos giros mortais. O movimento final foi um duplo mortal até a aterrisagem perfeita. O ginásio veio abaixo. Com outra nota 9,837, ele ganhou o inédito ouro para os americanos, superando o coreano Dae Eun Kim por 0,12 de ponto, uma das menores diferenças de todos os tempos. No lado feminino, a equipe da Romênia só superou os Estados Unidos no final, com a apresentação de Catalina Ponor, que teve nota acima de 9,7. Na final individual feminina, as brasileiras Daniele Hipólito, com o 12º lugar, e Camila Comin, com a 16ª posição, se destacaram. Mas o show foi mesmo da americana Carly Patterson, que ficou com o ouro depois de uma apresentação fantástica no solo que lhe valeu a nota 9,712. Agora, resta torcer para que o estoque de sorte e competência das romenas e americanas tenha se esgotado a ponto de permitir o sucesso de Daiane dos Santos.