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ASSÉDIO Na foto oficial do G-20, a rainha Elizabeth II ficou entre Brown e Lula, que também atraiu a atenção de Taro Aso, do Japão

Quem apostou no prestígio de Barack Obama perdeu feio. O centro das atenções da reunião do G-20 em Londres foi o presidente Lula. Como prova da popularidade do chefe de Estado brasileiro, o presidente dos Estados Unidos protagonizou uma cena que pegou de surpresa o próprio Lula. Antes do início da reunião do G-20, numa sala de conferência do Excel Center, à margem do Tâmisa, Obama introduziu Lula na roda de conversa com o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, com uma saudação superinformal, registrada pelas câmeras de televisão. "Ele é o cara", disse, apontando para Lula, depois de trocar um aperto de mãos e olhar para Rudd. "Meu chapa, adoro esse cara"’ (My man, I love this guy), acrescentou Obama, que completou a saudação com uma frase que certamente fez a festa da diplomacia brasileira: "É o político mais popular da Terra. Deve ser porque ele é boa-pinta." O primeiro- ministro australiano também destacou o fato de Lula ser popular mesmo estando num segundo mandato. No site da BBC, o vídeo estava entre os mais acessados até o fim da noite da quinta-feira 2. Ao comentar o encontro numa entrevista, Lula retribuiu o elogio. "A gente olha para o Obama e pensa que ele é baiano. Trata-se de um cara tranquilo e humilde."

Antes mesmo de pisar em Londres, Lula recebeu tratamento de grande estadista. Na escala em Paris, foi recepcionado de maneira calorosa pelo francês Nicolas Sarkozy. Da imprensa europeia, Lula recebeu elogios até pela decisão de ir de trem Eurostar no trecho Paris-Londres. Para o jornal inglês The Guardian, Lula deu um exemplo de respeito ao meio ambiente, com sua jornada de pouca emissão de carbono. Sarkozy, por exemplo, preferiu utilizar o avião presidencial ao fazer o mesmo percurso. Na capital britânica, Lula mereceu uma menção do primeiro-ministro, Gordon Brown, que citou uma história contada pelo presidente do Brasil ao explicar que já não é mais hora de se procurar culpados pela crise. "Ele me disse: ‘Quando eu era sindicalista, eu culpava o governo. Quando eu era da oposição, eu culpava o governo. Quando eu virei governo, eu culpei a Europa e os Estados Unidos.’" Lula ainda ganhou lugar de destaque ao se sentar ao lado da rainha Elizabeth II na foto oficial dos líderes do G-20, à frente de Barack Obama, que ficou de pé atrás do presidente brasileiro.

O papel de estrela surpreendeu o próprio Lula, que também mostrou-se impressionado com o destaque que o Brasil recebeu. Comemorou o fato de o País ser convocado a participar do reforço do capital do FMI em US$ 750 milhões. "Você não acha chique emprestar dinheiro para o FMI? E logo eu, que passei parte da minha juventude carregando faixa ‘Fora FMI’", brincou o presidente. A pergunta agora é se o sucesso da diplomacia presidencial terá impacto positivo nos pleitos internacionais do Brasil. Estarão garantidas, daqui em diante, a conquista de um assento na ONU e a voz mais ativa nas decisões do FMI? Tudo indica que não. Os afagos em Lula têm caráter individual, como eram as relações entre Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton.

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Se o Brasil quiser ter mais relevância no plano internacional, terá que assumir posições claras diante das questões e se comprometer. Por exemplo, no final deste ano e início do próximo, seria o momento de o Brasil avançar nas negociações da Rodada de Doha e em outras áreas nas quais tem interesse, como o Conselho de Segurança da ONU. Mas ainda não foi definida uma data para a retomada de Doha, fórum apropriado para a discussão do fim do subsídio e liberação do comércio, pontos defendidos pelo Brasil durante o encontro. Além da questão da Rodada de Doha, também não foi contemplada, até agora, a proposta brasileira de substituir o G-7 pelo G-20 e o pedido para que o monitoramento que o Fundo Monetário faz dos países emergentes fosse estendido aos países desenvolvidos.

Resta saber se as demonstrações de apreço dos líderes mundiais vão se refletir internamente na popularidade de Lula. Segundo a última pesquisa Datafolha, a taxa dos que consideram o governo ótimo ou bom recuou de 70% para 65%, em função da crise econômica. Já na pesquisa CNT/Sensus, o índice passou de 72,5% para 62,4%. A aprovação doméstica de Lula, depois da foto ao lado da rainha e do afago de Obama, poderá subir? "É uma prova de que Brasil vem fazendo um bom trabalho na chamada diplomacia presidencial, mas daí a Lula aumentar sua popularidade por conta disso é mais difícil", diz o cientista político José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP. "A leitura é que Lula está prestigiado, mas para que isso seja revertido em aprovação pessoal o governo terá de apresentar propostas diferenciadas para enfrentar a crise", afirma o cientista.


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